domingo, 7 de março de 2010

UM ALTRUÍSTA PORTUGUÊS QUE SOFRE MAIS PELA DEMOCRACIA DE CUBA DO QUE PELA DE PORTUGAL


O grito bate no fundo das nossas almas:
«Comunidade internacional deve pressionar regime cubano»,
Diário de Notícias, 1 de Março de 2010


Há meses atrás um senhor de nome Ribeiro e Castro, que deputa na Assembleia da República, arvorou-se em bandeirante ou cruzado dos tempos modernos, erguendo o pavilhão da Guerra Santa contra Cuba com um artigo próprio de alguém que quer mostrar serviço para que não se esqueçam dele à hora do rancho. Lembou-se de desancar Che Guevara, chamando-lhe «assassino», e Cuba, o território onde o dito «salteador» perpetrava os seus crimes.
Não se percebe muito bem a oportunidade da questão, dando-a, portanto, como uma descarga de bílis face a tudo aquilo que se passa à sua falta e altera a boa disposição.
Embora a afirmação não tenha a exigência de responsabilidade, trata-se apenas de um blá-blá, seria bom pelo menos dar-lhe um caldinho no cachaço, só para lhe mostrar que, por muita irresponsabilidade que se perdoa, também é conveniente mostrar que nem tudo pode ser afirmado de borla, E, como tal, escrevi algumas achegas, apenas para desmontar a anedota.
Pensava eu que o assunto estava encerrado, mas não. Mais recentemente, o sobredito cruzado faz declarações na imprensa que dão origem a um artigo, assinado por Pedro Correia (Diário de Notícias, 1 de Março de 2010), com um título a letras gordas: «Comunidade Internacional deve presionar regime cubano», dando conta das suas cristãs preocupações com a repressão em Cuba e com os riscos e agressões que a democracia aí sofre a toda a hora.
Trata-se de um toque de clarim dado por um cidadão a quem, pelo posto que ocupa na sociedade portuguesa, pois deputa na Assembleia da República, ficaria bem um certo bom senso e cultura política, tratando-se de democracia. O senhor RC esquece-se de tudo ou pelo menos do essencial, o que põe de rastos todas as suas divagações.
O senhor RC certamente leu em qualquer cartilha que a democracia não pode exercer as suas bases filosóficas e aplicações no terreno sem uma base sólida em dois pilares fundamentais - a Educação e a Saúde, já para não falar do Direito ao Trabalho - que, a não existirem, também a democracia sofre todos os riscos e agressões e não funciona por mais voltas que se lhe dêem. Uma outra nota para o cruzado porta-bandeira tomar em conta, é que, com todas as restrições que afligem o senhor RC, em Cuba, por exemplo, não há analfabetismo há muitos anos e o serviço de saúde pública é dos melhores do mundo, isto tudo confirmado pelas estatísticas de organismos internacionais. Se o senhor RC duvida tenho o maior prazer em lhe enviar as estatísticas internacionais competentes. E daí, de que Cuba é por direito próprio e definição um dos países em que a democracia é mais legítima. O que o senhor cruzado chama ditadura é simplesmente não aceitar quintas colunas por conta dos EUA, que combate o regime cubano por ser contrário aos seus desejos e projectos o que, aliás, todo o mundo sabe, mas nada disto tem que ver com a democracia, mas sim com imperialismo.

O que se estranha é como o senhor RC se preocupa tanto com Cuba e quanto à democracia em Portugal não diz nem faz nada. E o grave é que o senhor RC é pago para defender a democracia e não para dar lustro ao cadeirão em que se senta a pensar nos outros. Aqui há qualquer coisa mais grave que o povo contesta.
O meu pedido como cidadão, e com toda a segurança em nome de muitos, é que o senhor RC olhe para dentro e veja o estado da Nação em termos de Educação, que está na rua da amargura, e de Saúde aspas, aspas, aspas.
Faça uma cruzada, vá para a rua, e todos lhe agradeceremos.
Fernando Vieira de Sá
Lisboa, 7 de Março de 2010

1 comentário:

Graciete Rietsch disse...

Maravihoso texto.Cuba merece a nossa admiração por tão heróicamente resistir aos ataques de quase um mundo inteiro comandado pelos E.U.A.
A minha admiração também pelo autor do blog.

Um grande abraço.