segunda-feira, 20 de julho de 2015

NUNCA TER MEDO, NUNCA VERGAR OU VIVER DE CÓCORAS...

F. Vieira de Sá, 20 de Julho de 2013 (pormenor de foto de Luís Guerra)

«Fernando Vieira de Sá nasceu em 1914, em Lisboa, no dia 20 de Julho. Partiu na manhã do dia 15 de Março de 2015. [...] Nasceu em 1914, atravessou o século XX das Guerras e das Utopias, correu mundo ao serviço da FAO, conheceu variadas gentes e culturas, entrou decididamente pelo século XXI dentro. Nunca se cansou de aprender, de intervir, de sonhar um mundo melhor e sem injustiças. Nunca ter medo, nunca vergar ou viver de cócoras, viver sempre de cabeça levantada eram as suas divisas.» 


Luís Guerra

sábado, 2 de maio de 2015

«¡LEVANTEMOS NUESTRAS VOCES Y NUESTRA COPA PARA CELEBRAR LA VIDA DE AQUÉL QUE VIVIRÁ SIEMPRE EN NOSOTROS!»

Recebemos, no passado dia 26 de Março, uma sentida e comovente mensagem de Magaly Sala [filha de D. Victorio Sala, um grande amigo que Vieira de Sá conheceu no México e de quem nos fala em Viagem ao Correr da Pena (pp. 396 e ss.)] que aqui reproduzimos hoje com a devida autorização. Obrigado, Caríssima Amiga Magaly. 

Aproveitamos para responder à questão que nos coloca, informando todos os amigos que este blogue continuará aberto a outros depoimentos que, como este, queiram celebrar a vida do saudoso Amigo Vieira de Sá. Em breve contamos publicar o primeiro de vários depoimentos sobre a reconhecida importância do seu percurso profissional e os caminhos que desbravou e abriu para o futuro.


Muy estimado amigo Luis,

Es con profunda tristeza que acogemos la noticia y le agradecemos que haya pensado en nosotros. Gracias a usted, hemos podido seguir los acontecimientos de la vida de ese hombre excepcional. ¿Quedará su blog vigente todavía? Nos deja en él, un testimonio de un valor inestimable, que quisiera poder leer con atención.

Al irse, Fernando Viera de Sá deja un enorme vacío, tanto personal, como intelectual y humano. Pocas personas pudieron reunir, como lo hizo él, tantas cualidades. Hombre de ciencia, hombre de luchas, de integridad, escritor apasionado por el mundo y sus dolencias, solidario, generoso, revolucionario, y portador de esa gentileza y finura propias a un verdadero caballero. Los que como yo, tuvimos el privilegio de conocerle, junto con su maravillosa esposa, María Elvira, y de llamarlo amigo, de haberlo hecho parte de nuestras vidas, a pesar del tiempo y las distancias, podemos decir que él nos ha hecho ser mejores personas, por su ejemplo, sus ideas, su bondad y generosidad. Los males de la sociedad, las injusticias las vivía con profunda indignación y, con su pluma, arrojaba luz sobre las raíces de tales iniquidades. Su vivacidad, su sonrisa y buen humor, a lo que puedo ver, lo acompañaron hasta sus últimos días. ¡Levantemos nuestras voces y nuestra copa para celebrar la vida de aquél que vivirá siempre en nosotros! ¡Salud, amigo Fernando, siempre!

Muy cordial saludo,

Magaly Sala y familia

Montréal, Qc

quinta-feira, 30 de abril de 2015

SÓCIO HONORÁRIO DA SPCV I DOAÇÃO DO ESPÓLIO TÉCNICO-PROFISSIONAL


«[...] em assembleia geral da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias, realizada no dia 27 de março passado, foi aprovada por unanimidade a Atribuição, a título póstumo, do título de Sócio Honorário ao Dr. Fernando Vieira de Sá. A atual Direção considera a atribuição desta distinção, como uma forma de reconhecimento do trabalho realizado por seu pai que dedicou a sua vida à Medicina Veterinária, nomeadamente na área de produção leiteira e lacticínios.
[...]
Ficaríamos muito gratos pela doação do espólio bibliotecário de seu pai à SPCV, mas tive agora conhecimento que a nossa Faculdade já aceitou esta oferta o que também muito nos satisfaz porque assim, as obras em referência ficarão disponíveis para um número muito mais alargado de interessados, incluindo os estudantes do nosso curso de Mestrado.» 

[Excerto de mensagem enviada a seu filho, Eng. José Manuel Vieira de Sá, pelo Presidente da SPCV, Prof. Doutor Carlos Martins]


A distinção foi recebida pelo seu filho, José Manuel Vieira de Sá, 
no dia 26 de Fevereiro de 2016, na UTAD - Universidade de rás-os-Montes e Alto Douro.

quinta-feira, 26 de março de 2015

VIVE AGORA NO REINO DA MEMÓRIA

Lisboa, 20 de Julho de 2014, dia do 100º Aniversário. Foto de Luís Guerra

Fernando Vieira de Sá nasceu em 1914, em Lisboa, no dia 20 de Julho. Partiu na manhã do dia 15 de Março de 2015. Nesse mesmo dia, por razões de ordem pessoal, aterrava eu em Paris, onde uma mensagem telefónica me levou a notícia deste seu derradeiro voo. Dado de imediato o abraço solidário ao seu filho José Manuel e, através dele, a toda a Família Vieira de Sá, só hoje consigo alinhavar algumas breves palavras, que aqui vos deixo, no blogue criado para divulgar a sua vida e a sua obra e onde se manteve, enquanto quis e pôde, activamente interveniente.

Nos últimos tempos, quando o visitava, as nossas conversas passavam muito pelos temas da vida, da velhice, da solidão, da sensação estranha que é viver-se num mundo em contramão. 

Ao recorrente “Que bom ter 100 anos!” com que o brindavam, respondia com a sua fina ironia: “Que experiência tem você disso? Quando chegar à minha idade, venha ter comigo e então falamos!”

Conhecemo-nos nas Edições Cosmos onde, nos anos noventa do século passado, trabalhei como coordenador editorial. Aí editámos o seu O Reino da Estupidez nos Caminhos da Fome – Memória de tempos difíceis (Julho de 1996), com Prefácio de Eduardo Moradas Ferreira. Sim, na mesma Cosmos em que se estreou como autor das obras O Leite na Alimentação Humana (Maio de 1945) e Os Derivados do Leite na Alimentação e na Indústria (Junho de 1945), na célebre «Biblioteca Cosmos» de Bento de Jesus Caraça. O volume Biblioteca Cosmos – Um projecto cultural do Prof. Bento de Jesus Caraça, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian em Novembro de 2001, deu-o (p. 21) como tendo falecido em 1979. O que ele ironizou e riu (rimos) com este facto! As «provas de vida», muitas delas, ainda estavam para vir.

Haveríamos de editar, agora com a chancela da Moinho de Papel (minha e da Maria de Lurdes, minha companheira de vida e sua muito amiga e admiradora), os livros de memórias Cartas na Mesa – Recordando Bento de Jesus Caraça e a «Biblioteca Cosmos» (Abril de 2004), com Prefácio de Manuel Machado Sá Marques, Viagem ao Correr da Pena (Dezembro de 2004), com Apresentação de Urbano Tavares Rodrigues, Ecos do México – Da História e da Memória (Outubro de 2005), com Prefácio de Miguel Urbano Rodrigues, e Autópsia a um Departamento Científico do Estado – Livro Branco do Departamento de Tecnologia das Indústrias Alimentares, com Apresentação de Eugénio Rosa. Este último, veio a lume no 1º de Maio de 2008 e abre com uma bem expressiva dedicatória: «Dedico este trabalho de selecção documental e de crítica de processos a todos os servidores da Função Pública, independentemente de categorias, vínculo ao Estado ou precariedade de funções. Fraternalmente, Fernando Vieira de Sá».

Mas o mais importante destes nossos caminhos cruzados foi a sólida amizade que construímos (no início ainda com a presença serena da Maria Elvira, sua companheira de muitos anos de vida a dois), partilhada com a Maria de Lurdes, com os nossos três filhos e, mais recentemente, com a minha mãe. Sentíamo-lo como um membro da nossa família. Mostrou-nos muitas vezes que esse sentimento era, nele, recíproco e muito profundo. Foi um enorme privilégio tê-lo como Amigo.

Nasceu em 1914, atravessou o século XX das Guerras e das Utopias, correu mundo ao serviço da FAO, conheceu variadas gentes e culturas, entrou decididamente pelo século XXI dentro. Nunca se cansou de aprender, de intervir, de sonhar um mundo melhor e sem injustiças. 

Nunca ter medo, nunca vergar ou viver de cócoras, viver sempre de cabeça levantada eram as suas divisas. 

Deixa-nos uma obra e um valiosíssimo exemplo de vida.

Vive agora no reino da memória.

Luís Guerra
26 de Março de 2015