sexta-feira, 2 de novembro de 2012

DIA DE LOS MUERTOS

«Posada quer mostrar por forma dura e crua que, por mais que os vivos se disfarcem com largos chapéus e ricas plumas e outros adornos enfiados nos crânios das damas da alta sociedade, na morte tudo se reduz a um montão de ossos e a uma caveira horrenda, igual a todas as outras. Com a morte finda a jactância.
[...]
Chama-se ao dia Dia de los Muertos. O que se passa? Nesse dia, em vez da visita aos cemitérios para depor algumas flores (geralmente crisântemos) nas campas dos entes queridos e rezar (os crentes) uma oração evocativa, no México a celebração não fica por aí [...] Nesse dia, amigos e familiares dos seus defuntos de saudosa memória presenteiam-se com caveiras de açúcar feitas por confeiteiros especialistas na arte e vendidas em todas as confeitarias. As ditas caveiras assumem variadíssimos tamanhos, cores, adornos e expressões, todos de toque brincalhão, apelativo de qualquer intenção particular e caricatural, não lhe faltando a quadra escrita na testa sempre graciosa e com segundos sentidos. Os adornos podem ser vários, mas vulgar é a reprodução em açúcar da emblemática Calavera Catrina, de Posada, tão popular no México, como em Portugal é o célebre «Ora Toma» de Rafael Bordalo Pinheiro ou o «Galo» de Barcelos.»

Fernando Vieira de Sá, Ecos do México - Da História e da Memória, Moinho de Papel, 2005