segunda-feira, 20 de julho de 2009

FERNANDO VIEIRA DE SÁ - 95 ANOS

Há 95 anos, no dia 20 de Julho de 1914 (segunda-feira, como hoje), nascia em Alcântara, na cidade de Lisboa, Fernando Peixoto Vieira de Sá, filho de Mário Pedro de Alcântara Vieira de Sá (1888-1979) e de Maria Luiza Bandeira Peixoto (1891-1982). Para assinalar este importante acontecimento, damos hoje a palavra aos Amigos e a todos quantos, com ele, de alguma forma, contactaram e foram tocados por este extraordinário exemplo de vida. De uma vida que não é apenas longa e plena de realizações e experiências, mas, e sobretudo, de uma vida vivida sempre a olhar em frente e orientada por princípios que se consubstanciam e manifestam na verticalidade e na recusa visceral do medo, da subserviência, do pessimismo e do comodismo. Parabéns Vieira de Sá. Luís Guerra

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FERNANDO:

Já somos ambos membros do “Clube dos Macróbios”!
Eu faço, em Novembro, 90 anos… Tu, hoje, fazes 95… Começamos a estar um pouco velhos… Mais dia, menos dia, começam a chamar-nos “velhotes”!…
Enquanto tal não acontece, porém, aqui vai um Grande Abraço de Parabéns, pelo dia de hoje, com o desejo que “contes muitos e bons”, como antigamente se dizia…
Pergunto, a mim próprio: Qual a razão que nos liga? Será apenas o facto de termos um bisavô comum?

Na realidade, se os primeiros anos da nossa infância decorreram num ambiente familiar, em breve, os nossos caminhos da vida afastaram-nos e, no decurso de mais de 40 anos, só vagamente, por um ou outro parente, por amigos comuns, tinha notícias suas e acompanhei a sua brilhante carreira… O seu diploma de Médico Veterinário; o seu primeiro abordar dos problemas relacionados com a produção e utilização do leite e dos seus derivados; a sua estadia em Inglaterra – em plena II Guerra Mundial – como bolseiro do Instituto de Alta Cultura; a sua pertença à FAO e as suas aventuras no Brasil, no México, na Tailândia e no Paquistão, em Angola e em Moçambique, etc., divulgando as vantagens do consumo do leite e dos seus derivados, entre populações subdesenvolvidas e exploradas, com fome, ignorância e superstição…
Escrevendo, denunciando e protestando corajosamente contra situações de miséria; criando e organizando unidades, economicamente viáveis, para a produção integral do leite e seus produtos… Que sei eu… Na sua luta contra a miséria talvez chegasse a ir vender, ou dar, leite até “casa do Diabo mais velho”…

Um pouco menos jovem, continua a escrever, agora, as suas memórias…

Em Abril de 2004, vi – via Internet – a notícia da inserção na colecção «Percursos da Memória», edição Moinho de Papel, de um novo livro de Fernando Vieira de Sá, recordando Bento de Jesus Caraça e a «Biblioteca Cosmos». Ora eu, dada a minha formação matemática, fui e sou admirador de Bento Caraça, de todos os seus trabalhos, particularmente, dos Conceitos Fundamentais da Matemática, salvo erro segundo volume da «Biblioteca Cosmos».
Imensamente interessado com a notícia, resolvi telefonar a Fernando Vieira de Sá e daí surgiu uma nova fase das nossas vidas e das nossas relações… É com prazer que recordamos familiares já desaparecidos; episódios da nossa infância; amigos, preocupações e interesses comuns…
Mas encontrei, sobretudo, para além do investigador sábio e realista, alguém muito delicado e muito sensível, respeitador do pensamento e das ideias dos outros, sem que isso impeça, no entanto, a assunção corajosa e recta das suas próprias ideias e ideais…
Fernando Vieira de Sá é um homem recto… Um homem que tem por hábito “falar claro e m… direito”…

Voltando ao princípio…

FERNANDO:

Aqui segue um Grande Abraço de Parabéns, pelo dia de hoje, com o desejo que “contes muitos e bons”, como antigamente se dizia…

RUY
[Ruy de Paiva e Pona]
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Um abraço apertado! De parabéns pelo dia do aniversário, mas também de gratidão! O Vieira de Sá sabe bem o que lhe devemos, pelo muito que nos tem ensinado e por o termos como exemplo.
Embora o nosso convívio se tenha iniciado só há uns anos, para mim, nas minhas recordações, o Vieira de Sá é já uma vivência muito antiga. Não conheci pessoalmente a Maria Elvira, mas quando visito o Vieira de Sá, a sua presença é permanente!
São inesquecíveis os bons tempos passados com queridos e bons Amigos! Recordamos com saudade o “nosso” General Vasco Gonçalves e o encantador José Branco Rodrigues.

20 de Julho de 2009
Manuel Machado Sá Marques

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PARABÉNS!

Imagino não ser nada fácil ter 95 anos!
Dizia algures no seu blogue, que, nas conversas com os amigos, já não se falava de futuro, mas apenas do passado das suas vidas. Mas, a meu ver, é de futuro que se trata, quando disponibiliza ao público as suas vivências, as suas ideias, contributo precioso aos que, no activo, buscam referências nos caminhos percorridos por outros.
Fico sempre emocionada quando penso no Dr. Vieira de Sá, com 95 anos, que continua, como homem empenhado que sempre foi, a sua luta por um mundo melhor, utilizando agora as armas do momento.
Dia 20 de Julho! Nesta data bonita, se eu pudesse, segurava bem a sua mão e, sentindo fresco da manhã no rosto, subiríamos a um ponto alto da Estrela, para assistir ao nascer do sol. Antes de descer, dir-lhe-ia acreditar, que os pequenos passos conseguidos, dos que lutam por causas nobres, só poderão conduzir à Paz!
O meu abraço muito amigo de parabéns e os meus votos de boa saúde.
Angelina Barbosa

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Recordando o «Apeadeiro de Chobela» o encarregado do mesmo, na altura, dá o sinal de partida pelos 95 anos do colega Vieira de Sá para que continue a sua vida de produção, recordando que ele também encontrou um apeadeiro de recepção de leite, na cidade de Maputo, e conseguiu transformá-lo numa central leiteira.

Com um abraço do
Morgado [Fernando de Pinho Morgado]

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Conheci o Dr. Vieira de Sá em 1986 quando fui estagiar para a Unidade de Indústrias Lácteas do DTIA, pouco depois de se ter reformado de Director desse Departamento. Durante os 20 anos que por lá fiquei, tive o privilégio de privar com ele, pois sempre manteve o interesse pela actividade do Departamento e particularmente pela Unidade que criou, alimentando a amizade que genuinamente sentia por todos os seus elementos. Recordo com alguma nostalgia as curiosas e divertidas histórias que sempre tinha para contar, sobre factos verídicos que presenciou ou viveu ao longo da sua invejável experiência de trabalho e aventura por quase todo o mundo. Marcou-me a forma digna, corajosa e directa como sempre o vi abordar publicamente assuntos, por vezes polémicos, sem receios de evidenciar tudo em que convictamente acreditava, independentemente das consequências. Saí há três anos daquele Departamento (ainda antes da "Autópsia"), porque infelizmente, já não se encontram Vieiras de Sá.

Desejo-lhe um muito feliz dia de Aniversário. Recordá-lo-ei sempre.

Um forte abraço

Luísa [Luísa Bivar Roseiro]

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Caro F. V. de Sá (e Luís Guerra)

Para os dois, mas muito particularmente para o Primeiro, quero dizer que nunca conheci ninguém que tão livremente e com uma certa alegria de viver "fizesse do velho novo"; e do novo, o presente que o futuro nos poderá trazer. Mesmo que não traga!

Como hei-de provar o que acabo de dizer? É simples. Nunca ninguém me chamou, com a idade que julgo que tenho e tenho, um Jovem. O F.V. de Sá chamou-me. E eu acreditei. Por isso estou satisfeito por nos conhecermos.

Parabéns. E já que mudou de século, mude também de década.

Um Abraço para os dois

António Neves Berbém

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Nesta data de festa quero enviar ao Dr. Vieira de Sá um excerto do prefácio das minhas provas de agregação, apresentadas em Julho de 2004. Surge aqui como uma das minhas maiores referências profissionais.
«Conheci o Dr. Fernando Vieira de Sá no meu primeiro dia de trabalho na belíssima sala da biblioteca do Departamento de Tecnologias das Indústrias Alimentares. De aspecto austero, o Dr. Vieira de Sá tinha por hábito fazer uma visita diária aos laboratórios do Departamento, envergando uma bata imaculada, conversando com os funcionários e imprimindo às actividades a motivação necessária a um ritmo eficaz. Aos mais novos distribuía generosamente a sua extensa experiência profissional e a riqueza do seu espírito. O Dr. Vieira de Sá é uma personalidade sem fronteiras que estendeu a sua actividade a vários continentes ao serviço da FAO e posteriormente do governo português. Tendo-se dedicado à tecnologia alimentar trabalhou na Ásia, América do Sul e nas províncias ultramarinas portuguesas em África. Durante muitos anos os seus trabalhos sobre tecnologia do leite e lacticínios publicados em revistas internacionais foram referência e os seus vários livros técnicos ainda hoje fazem Escola. Durante as diversas conversas que manteve comigo dei conta que a sua aparente austeridade facilmente dava lugar a uma saudável abertura, por onde se vislumbrava uma visão esclarecida rara nos investigadores que conheci na altura. O grupo de investigação em que me inseri foi criado devido à sua visão sobre as tendências da tecnologia, a sua compreensão do desenvolvimento das tecnologias biológicas e a necessidade de implementação dessas valências no nosso País. Desde a primeira hora, o Dr. Vieira de Sá foi um cúmplice, e sem dúvida um instigador, da minha aventura europeia na busca de evolução científica e conhecimento de realidades diferentes. O apoio que recebi então tinha em vista a obtenção de competência técnica como investimento para o futuro da instituição, garantindo desta forma que havia uma adaptação às novas realidades sociais e económicas. Possuir o grau de Mestre ou de Doutor era absolutamente irrelevante em comparação com a obra que esperava ver desenvolvida e realizada. Na década de oitenta o ambiente que se vivia nos Laboratórios do Estado era de confiança. Criaram-se condições para o aparecimento de grupos modernos contratando jovens motivados e disponíveis para a actividade científica.»
Desejo um dia muito feliz e muitos anos de um contínuo exemplo às novas gerações.
Um abraço do sempre amigo
José Carlos Roseiro
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Muitos Parabéns!

Caro Vieira de Sá, conhecê-lo e ter a honra de conviver consigo (a maior parte das vezes por telefone) é maravilhoso!
Agradeço-lhe a sua juventude e, mais do que tudo, o partilhar comigo algumas das suas muitas histórias, sempre tão ricas e cheias de sabedoria.
O Vieira de Sá é um exemplo para todos nós com a sua Grande Vida e sobretudo para todos quantos passam a vida a lamentar-se de tudo, mas que nada fazem para mudar.
Prova do grande ser humano que é, continua independente e capaz de tudo fazer com grande autonomia. Os seus chás são os melhores!
É com carinho que recordo o dia em que lhe disse que ainda chegava aos 100 anos, ao que o Vieira de Sá me respondeu: «Não me deseje isso, é o pior que me podem desejar, pois já não tenho com quem partilhar as minhas lembranças». Nós - eu, o Luís e os nossos filhos, que gostam muito de si - não conhecemos as coisas tal como as viu mas estaremos sempre presentes para o ouvir falar delas e das suas vivências com muito carinho e amizade.
Mais uma vez Parabéns por tão bela data!
Um grande beijinho da amiga
Maria de Lurdes Guerra

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Querido Fernando

Ao recordar, quando o sol nascia, que completas hoje 95 anos, abri a janela, contemplei os campos de Serpa na lonjura da planície alentejana, meditei durante alguns minutos sobre a tua longa e bela caminhada pela estrada da vida e pensei: o Fernando, sempre resmungão e julgando-se um pouco esquecido, tem um talento especial para demolir os contra-revolucionários e toda a escória humana que em Portugal se mascara de esquerda, mas ignora o que os amigos pensam dele.
Eu sou um deles .
Nos últimos anos raramente nos temos encontrado porque vivo longe de Lisboa. Mas estás presente em mim diariamente. Numa síntese do teu perfil direi que reforça a esperança verificar que neste tempo de crise global da civilização existem homens como tu.
Pelo teu eticismo, pela coerência e firmeza do teu combate desde a juventude pela revolução social, pela tenacidade com que colocaste o teu talento de cientista e escritor ao serviço das grandes causas – vejo em ti, Fernando, não apenas um humanista mas o paradigma do revolucionário exemplar. Até no amor foste grande, na relação de contornos quase mágicos que mantiveste com a Maria Elvira, tua companheira.
Uma solidariedade comum com os povos do Terceiro Mundo em luta pela independência autêntica abriu portas a intermináveis conversas sobre países que ambos conhecemos bem e que amamos, sobretudo o México, o Afeganistão e Cuba. Mais de uma vez, recordando as tuas lutas, sobem na minha memória personagens da grande geração de revolucionários russos de 17 porque há em ti traços do carácter dessa gente maravilhosa.
Falo com frequência da vida útil que difere da biológica. Também ai és uma inflorescência. Aos 95 anos continuas a pensar e escrever como um jovem.
Aguardando a festa do teu centenário, aqui vai o abraço de parabéns do teu amigo e camarada
Miguel Urbano
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Caro Amigo
Venho neste dia 20 de Julho desejar-lhe um dia muito feliz.
É com muita alegria que lhe dou os meus parabéns e desejo que continue com saúde, com actividades diversas, nomeadamente com a escrita, que tanto agrada e enriquece o leitor. Refiro, nomeadamente, as Cartas na Mesa, que tanto prazer me deu, pela beleza da sua escrita e pelo interesse do seu conteúdo.
Penso neste dia 20, no convívio em Cascais, com os meus Pais, posteriormente no Algarve, em casa dos meus Tios. É sempre com grande prazer que me lembro das conversas vivas em que também participei um pouco e na amizade genuína que testemunhei.Lembro igualmente o apoio do Dr. Vieira de Sá em momentos difíceis, quando o meu Pai foi operado ou na doença do meu Tio José Branco Rodrigues.
Gosto sempre muito de contactar com o Dr.Vieira de Sá, pessoalmente ou via telefónica/ mail, de participar no seu convívio, de dar continuidade, conjuntamente com a minha Mãe (ou com os meus irmãos) à amizade que existia com o meu Pai, toda a alegria da amizade que a solidariedade e identidade de valores consolida.
Um grande abraço do
José Diogo (Gonçalves)

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Apesar de não ter trabalhado directamente com o Dr. Vieira de Sá, conctatei com ele, via INETI e via Dra. Manuela Barbosa. Esteve presente em muitos dos almoços da nossa Unidade - a UIL - por ele fundada. Nutro um carinho muito grande pelo Dr. Vieira de Sá e admiro muito tudo o que fez, juntamente com a Dra. Manuela - a minha antiga chefe, e hoje amiga. Aqui vai o meu testemunho e deixo os meus votos de Parabéns:

95 primaveras,
uma data tão especial.
Requer uma comemoração,
única e sensacional.
Nesta surpresa, não poderia,
deixar de participar.
Desejo-he um dia muito feliz,
e que o continue a recordar.
Sou a Sandra Pinto, a ex-UILiana,
gostei muito de consigo contactar.
Guardo boas recordações,
de quando nos ía visitar.

Beijinhos de Parabéns da

Sandra Pinto da Silva


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Grande e muito querido amigo
Fernando Vieira de Sá

MUITOS PARABÉNS!

Ao pensar em si, não podemos nunca deixar de evocar a Sra. D. Maria Elvira, a sua companheira, senhora de extraordinárias inteligência, doçura e sensibilidade cujo sorriso e olhar, brilhantes, nos permanecem na memória impregnada de saudade e ternura, por ela.

O casal Vieira de Sá, destacava-se no grupo dos grandes amigos de nossos pais, Aida e Vasco.
Uma profunda comunhão de ideias e empatia pessoais, uniu os dois casais numa dadivosa amizade e profícua cumplicidade. Os sentimentos que nutriam entre si, construíram, uma muito enriquecedora e exemplar ligação, plena de afectos, lealdade, integridade, que, estamos certos, lhes proporcionou uma profunda alegria nas suas vidas.

A conversa, cujo nível e profundidade de análise os arrebatava, horas sem fim. Os temas interessantíssimos, onde se evidenciava a notável riqueza e experiência de vida do casal Vieira de Sá, as fabulosas histórias narradas com o requintado humor que a sua extraordinária inteligência confere a Fernando Vieira de Sá, enfim, os acalorados e cúmplices debates sobre todo o tipo de assuntos, constituíram o sedimento dessa exemplar amizade.

Dos encontros, muito frequentes, recordo as visitas à “casa de Sesimbra”, de onde os nossos pais, vinham sempre maravilhados pelo convívio, pela beleza da obra de arquitectura e dos jardins, onde as plantas e as flores eram amorosamente escolhidas e cuidadas pela Sra. D. Maria Elvira.

Quando vinham a Cascais eram, também, formidáveis sessões e serões de conversa.

A profunda amizade e companheirismo entre Vasco e Fernando, levou-os a um convívio intenso, a partilharem férias, enfim, a conversarem todos os dias, nem que fosse só por telefone.

A Maria Elvira e o Vasco partiram.
A Aida e o Fernando perduram a amizade.
Alguns “ incómodos” da passagem dos anos, remeteram-nos às suas casas.
O Fernando mantém o convívio com lindos ramos de flores que, gentilmente, faz chegar a casa da Aida, nos dias comemorativos, acompanhados de cartões com comoventes dizeres que a levam a sorrir e a enchem de saudade.

Um grande bem-haja, Sr. Dr., pela amizade com que distinguiu nossos pais.
Continue a escrever, por favor, pois o seu saber acumulado é imenso e nós precisamos tanto de aprender, como precisamos imenso de si.

É uma felicidade e um privilégio conhecê-lo e dedicar-nos a sua amizade.

4 Grandes e Apertados Abraços Muito Amigos

Aida, Maria João, Vítor, Vasquinho
Gonçalves

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Muy querido amigo Fernando,

Ante todo disculpe que no le escriba de mano propia, pero llevo un mes en el hospital, consecuencia de una insuficiencia cardiaca crónica, pero, aunque lentamente, voy mejorando. Es precisamente en momentos como estos, cuando uno se complace en recordar, que surge con gran intensidad el recuerdo de los amigos más queridos y añorados, y usted, amigo Fernando, viene en cabeza junto con la dulce memoria de María Elvira... ¡Cuántos bellos momentos no hemos compartido, de sobremesa, junto con Victorio en nuestro México, a quién tanto he de agradecer, en particular por el haber permitido el tipo de amistad que nos une desde hace tantos años y a pesar de la distancia. ¡Cómo recuerdo la pasión que usted siempre puso en su trabajo, cómo con Victorio querían arreglar el mundo y cómo María Elvira con su ternura y su mano artística alegraba nuestro entorno con sus obras florales!!!
Y no sabe qué inmensa alegría me procura verlo tan activo, tan creativo vísperas de sus 95 años!!! Reciba mis más calurosas felicitaciones con motivo de tan importante aniversario, que espero lo pase rodeado de todos los suyos, y que a pesar de la distancia le llegue todo el cariño que esta familia le tiene y le tendrá siempre. Yo sé que para Magaly usted es una de las personas más importantes de su infancia y ella y Daniel siempre recuerdan con emoción los días que pasaron con usted y María Elvira en Portugal y el cariño con que los recibieron a ellos y a mis nietos.
¡MUY FELIZ CUMPLEAÑOS, MUY QUERIDO FERNANDO!

Su amiga de siempre,

Antía Culebra

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Muy querido y presente Fernando,
¡¡¡Es al amigo, al hombre de ejemplar integridad y al luchador por un mundo mejor que, desde estas tierras canadienses, saludamos y felicitamos con motivo de tan augusto aniversario con gran admiración, respeto y sobre todo con gran cariño y contando celebrar juntos sus 100!!!
¡Qué alegría poder celebrarle, aunque sea por este medio, sus 95 años! Un motivo más para reiterarle nuestro afecto y desearle mucha salud, bienestar y lindos proyectos. Hemos estado pensando mucho en usted con mamá, quien como sabe, está hospitalizada y como paso mucho tiempo con ella estos días, nos damos el lujo de compartir tranquilamente y la familia Vieira de Sá es sujeto de frecuente y grata conversación. Y con Daniel y los chicos rememoramos los inolvidables días pasados en Sesimbra, las deliciosas sardinas preparadas por Fernando, los paseos al pueblo y cómo todo mundo saludaba cordialmente a Fernando y a María Elvira, la visita todavía más memorable a la cooperativa agrícola y no se nos olvidará nunca la botella de Porto de 1945 que nos regalaron a nosotros estudiantes mochileros que cuidamos como un tesoro durante todo el viaje por Europa y luego de regreso a Canadá, donde la tomamos con mis padres a la salud de los Vieira. Hoy levantamos nuestra copa a la salud y felicidad de Fernando Vieira de Sá, hombre excepcional, a quien con gran orgullo y respeto llamamos AMIGO.
¡¡¡Muy felices 95!!!
Magaly, Daniel, Eric y Alionka

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O Fernando Vieira de Sá é um amigo modelar, daqueles amigos do coração que estão sempre connosco nos bons momentos e nos muito maus. Veterinário, nutricionista, antropólogo, foi alto funcionário da FAO em muitos países, onde prestou serviços inestimáveis.
Como bem sabem os seus amigos, foi um antifascista inquebrantável e um militante comunista de ampla e generosa visão do mundo e de absoluta lealdade para com o seu Partido.
Nesta hora de festa, quero saudar, com um fraternal abraço, o cientista, o escritor, que já nos deu uma valiosa obra de testemunho e reflexão, o camarada, companheiro de horas felizes e de horas amargas, sempre animado pela esperança de um futuro melhor para a Humanidade.
Querido Fernando, estreito-te ao peito, de punho erguido, sorrindo como tu sempre soubeste sorrir à ilusão, à adversidade e à vitória.
Urbano Tavares Rodrigues

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Ao Fernando Vieira de Sá
Nos meus tempos do MUD Juvenil e ainda antes de ter o prazer de com ele conviver, Fernando Vieira de Sá fazia parte da “constelação” dos colaboradores da Cosmos dirigida por Bento de Jesus Caraça. Esta editora/colecção constituiu para nós uma referência cultural ao serviço da luta em que estávamos envolvidos por uma sociedade livre e justa.
Anos depois viemos a ser “colegas” na FAO, embora em áreas distintas. Apraz-me recordar o prestígio profissional de que o Fernando Vieira de Sá gozava, aliado ao respeito que merecia como funcionário internacional ao serviço dos valores das Nações Unidas e da cooperação entre os povos.
Depois das ricas e humanas memórias que escreveu e que tivemos o prazer de ler, não vou aqui evocar os episódios de que foi actor e que revelam o sistema de valores sociais que sempre marcaram as suas atitudes e relação com os outros.
Tivemos, depois do 25 de Abril, várias oportunidades de colaborar e de nos encontrar entre amigos, em Portugal. Vêm-me à memória os bons momentos que partilhámos num pequeno restaurante do Cais do Sodré, conjuntamente com o Dr. Herculano Vilela, como “cobaias” de um novo queijo que o Fernando tinha produzido e queria “testar”…
Fomos mantendo contacto à volta de efemérides e batalhas políticas e cívicas ao longo de todos estes anos, partilhadas com grandes amigos já desaparecidos como António e Vasco Gonçalves, Monteiro Baptista, José Branco Rodrigues e com outros que continuam coerentemente a defender os ideais e objectivos de Abril.
Nos tempos que correm, neste mundo globalizado – que rima como mercantilizado – saudamos, a Maria Eduarda e eu, nesta data, e com amizade, a solidariedade humana e a frontalidade das posições do Fernando que nos encoraja a todos a não baixar os braços na busca de um mundo melhor.

Mário Ruivo
20 de Julho de 2009
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Amigo Vieira de Sá

Não podia deixar passar este dia em que completas 95 anos sem deixar o meu testemunho de amizade e admiração por mais um aniversário, numa vida de Homem que sonhou, realizou e teve uma vida exemplar, de cidadão, dirigente, colega de trabalho e amigo.
Desde o tempo em que me foste apresentado como “chefe” do Departamento de Tecnologia e Indústrias Alimentares, onde era estagiária, que desenvolvemos uma amizade que ainda hoje perdura. Foste, sem me ter dado conta na altura, uma pessoa que pelo exemplo moldou a minha forma de estar na vida. O rigor, o sentido crítico, a insatisfação constante, o tentar fazer sempre melhor, a transparência na conduta, o não se conformar com o estabelecido, a liderança sem subserviência e sua importância na realização de projectos, os objectivos com prioridade no colectivo, o entusiasmo.
A postura de Serviço Público que imprimias ao Departamento no apoio técnico dado às Indústrias Alimentares, como se pretende actualmente, era já feito nos finais dos anos 60 com formação a quadros das empresas, apoio analítico e consultadoria, transferência tecnológica e inovação.
Tenho presente a tua sempre pronta colaboração na leitura crítica de textos e da minha tese de Doutoramento.
As horas de conversa quando nos encontramos! Conseguimos estar horas a falar sobre diversos temas deliciando-me e aprendendo com a tua vasta cultura e com a boa disposição e o sentido de humor que te é peculiar, narras factos e episódios por ti vividos, aqui ou no estrangeiro, recentes ou de há muito tempo, afirmando a tua prodigiosa memória.
Por vezes, no quotidiano vamos espaçando os contactos, até porque distamos nas nossas residências de cerca de 500 Km, mas nem por isso a amizade sofre qualquer beliscadela e muitas vezes damos connosco a pensar se o melhor da vida não será o cultivar das verdadeiras amizades!
É um privilégio ter-te como amigo. No dia dos teus 95 anos, quero associar-me ao grupo de amigos que te envia um grande abraço de Parabéns.
Conceição Martins
Vila Real 20/07/09
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Ao caro Amigo Vieira de Sá
É sempre um gosto e uma grande honra conhecer alguém que comemora o seu 95º Aniversário. Mas quando esse alguém marcou a nossa vida profissional e é nosso amigo de longa data, a honra é redobrada.
Assim, ergo neste dia simbolicamente a minha taça pelo seu Aniversário, felicitando-o por mais um ano vivido e pela sua coragem e determinação em acompanhar os desenvolvimentos do século XXI...!
A sua reacção permanente aos sinais da «nossa modernidade», sinal de que está bem atento ao que se passa no mundo, e a sua curiosidade, tão característica do seu profundo saber, fá-lo chegar ao dia de hoje felizmente com boa disposição e sentido de humor.
Faço votos que o mesmo se repita com saúde e bem-estar nos anos vindouros.
Com um grande abraço de amizade, relembrando também neste dia, com saudade, a figura ímpar de Maria Elvira.
Manuela Barbosa
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Caro Fernando Vieira de Sá,
Pede-me o amigo Luís Guerra que escreva algumas palavras para alimentar o blogue neste seu 95º aniversário. Não poderia recusar esta oportunidade de assinalar tão memorável data, embora não seja tarefa que consiga fazer com facilidade, mais habituado que estou a arranjar os textos dos outros do que a escrever os meus próprios.
Decerto haverá outros muito mais habilitados a escrever sobre o amigo Fernando. O nosso convívio não vem de há muito tempo, nem tem sido muito assíduo. Muito do nosso conhecimento começou por ser indirecto: ao paginar os seus livros, mesmo antes de nos conhecermos, fui-me apercebendo, e tornando admirador, da frontalidade do seu carácter, da sua intransigência na defesa dos seus ideais. Nos escassos — mas ricos — encontros que tivémos, pude confirmar esses traços, mas também experimentar a sua simpatia, o seu sentido de humor, a sua agradável convivialidade. Em suma, rapidamente reconheci na sua pessoa aquilo que posso identificar como mais um rico exemplo de vida e de conduta cívica. É por isso que, sempre, e sobretudo nesta data simbólica, lhe quero deixar um forte abraço de reconhecimento e de felicitações. Os meus sinceros parabéns!

Joaquim António Silva
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Ao Homem, ao Amigo e ao Camarada Fernando Vieira de Sá, um abraço de grande admiração e respeito pelo ser humano que és e pelo exemplo de vida que nos tens dado.
Parabéns, Fernando, pelo teu aniversário!
Um beijo
Bárbara [Freitas]
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Para o meu amigo Fernando
Há quem diga que «os grandes amigos se fazem na juventude» como se a amizade não pudesse crescer entre diferentes gerações. Nunca concordei. Os Amigos são absolutamente intemporais. Sobretudo quando os ideais humanistas e as causas da cultura e da liberdade nos são comuns.

Foi o livro Cartas na Mesa (2004) que me revelou a escrita de Fernando Vieira de Sá e fez nascer a vontade de o conhecer pessoalmente. Era a minha vertente de investigadora a segredar-me que o Fernando personificava uma riqueza vivencial extremamente importante para a nossa contemporaneidade. E não me enganava.

O nosso encontro aconteceria no lançamento do livro Ecos do México (11 de Novembro de 2005) na Associação 25 de Abril, numa sala a transbordar de amigos e admiradores, e a visita a sua casa passados alguns dias.

Entrar naquela casa, ali à Lapa, foi um deslumbramento que ainda hoje se mantém. Nela proliferam os livros e as obras de arte a testemunharem as mais diversificadas andanças de uma vida. Tal como pontificam as memórias dos afectos que foi semeando pelos caminhos percorridos e, sobretudo, a «presença viva» da sua companheira da longa caminhada, a sra D. Elvira, há anos desaparecida e que muito gostaria de ter conhecido.

Conhecer-te, Fernando, foi das experiências mais ricas da minha vida. Ter-te como Amigo, um privilégio de que me sinto para sempre devedora.
Uma superior inteligência e lucidez microscópica fazem de ti um ser fascinante e um jovem cujos 95 anos apenas se reflectem nas articulações que o tempo corroeu e com as quais ironizas.
Por isso te visito sempre com o maior prazer e passo horas em amenas conversas, muitas vezes num regresso ao passado que me seduz. Porque junto a ti nunca damos pelo passar das horas.

És um ser humano de excepção. Admiro a tua coragem, a tua verticalidade, a tua combatividade e o teu carácter impoluto que nortearam uma vida caldeada pelos ideais republicanos, pela luta contra a ditadura e pelas utopias que Abril nos trouxe. E em que continuamos a acreditar.

Parabéns, querido Fernando!
Júlia Coutinho

domingo, 12 de julho de 2009

ANTÓNIO MARTINS MENDES - UM GRANDE VETERINÁRIO


A fatídica notícia da morte do Prof. Doutor António Martins Mendes era aguardada a todo o momento. Uns dias antes, sem o saber, fazia-lhe a última chamada telefónica para Elvas, aonde se acolheu com sua mulher, Gina, para beneficiar da proximidade de seu filho, médico nessa cidade. Ele respondeu da cama com sílabas apagadas, mas nutridas da consciência do momento que se aproximava, pedindo-me para desligar porque as suas forças já não suportavam o esforço de qualquer audição e muito menos a voz. Despedi-me sem haver resposta, E, no meu íntimo, logo entendi que tinha ouvido talvez as últimas sílabas da sua existência.
A notícia chegou no dia 1 de Julho. Estava preparado para perder um grande amigo, um grande vulto da veterinária portuguesa, em todos os aspectos que enriquecem a vida, a sociedade e a portugalidade que tanto recebeu do seu labor. Pena é que, como em tantos casos, o aproveitamento de tanto empenho é recebido com um encolher de ombros que logo se manifesta nas dificuldades de editar a sua obra num volume, facilitando o acesso à consulta e ao estudo, aproveitando-a em toda a sua pujança de conhecimento e autoridade.
Mas, o meu sentimento alarga-se à companheira de toda a sua vida, Gina, cuja saúde é de há muito tempo da maior precariedade, E que a partir de agora tem de juntar à sua extrema debilidade o sofrimento que representa a maior solidão de todas as solidões expectáveis - a perda de quem para ela representava a maior força que se opunha à sua decrepitude, bem expressa à vista de todos.
FICA A SAUDADE PARA TODO O SEMPRE
Findava o último combate de uma batalha que fora exemplo de modéstia, perseverança e saber, títulos com cujos itens se consolidam as civilizações.
Também, e sobretudo, fica uma obra de grande peso específico científico e historiográfico, fazendo parte do legado deixado pela colonização portuguesa nem sempre norteada pelas melhores causas, mas que neste caso muito se fica a dever a Martins Mendes, destacando especialmente o profundo levantamento realizado em «Origens dos Serviços Veterinários de Angola» e em «A História do Laboratório Central de Patologia Veterinária de Angola», registando variadíssimas fontes de informação, num tempo em que não existia ou não era comum a Internet e os arquivos não primavam pela facilidade de consulta, publicados em Veterinária Técnica e na Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias. Igual contributo doou a Moçambique, onde leccionou na Faculdade de Veterinária da Universidade Eduardo Mondelane, deixando um trabalho de pesquisa bibliográfica publicado sob o título «Criação dos Serviços Pecuários de Moçambique», publicado na Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias.
Do mesmo modo, e no campo da patologia microbiana, um longo trabalho se anota sobre «A Peripneumonia Contagiosa Exsudativa dos Bovinos em Portugal», in Veterinária Técnica. Anote-se ainda «Homenagem a: Louis Pasteur (1822-1895)», por ocasião do Centenário da morte do sábio, sendo este um precioso documento de pesquisa, exigindo uma profunda análise de consulta bibliográfica. Outros trabalhos se poderiam citar. Apenas se deram exemplos.
PARA QUE TUDO ISTO CONSTE E SIRVA A CULTURA
Em minha opinião a maior homenagem substantiva à memória de Martins Mendes que se lhe pode fazer seria editar os seus escritos em volume de larga lombada para facilidade de consulta, enriquecendo a cultura portuguesa, valorizando a sua presença colonial, nem sempre encomiástica.
Martins Mendes serviu o ensino veterinário superior na cátedra da Escola Superior de Medicina Veterinária (a Casa Mãe), regressando a ela após a descolonização, deixando para trás o seu frutífero trabalho.
Os encontros que conduziram à nossa amizade começaram em Nova Lisboa, onde passei algumas vezes em estadias de semanas em tarefas de trabalho. Também em Moçambique, onde permaneci, entre outras visitas, seis meses por conta da Cooperativa dos Criadores de Gado, com a finalidade de estudar e propor acções que levassem ao melhoramento do abastecimento de leite à cidade de Lourenço Marques e ao funcionamento da Cooperativa no sector do leite, desde a produção e abastecimento domiciliário de Lourenço Marques, passando pelo transporte e processamento. Mais tarde, e com a descolonização, os meus encontros com Martins Mendes eram rotina e aí aprofundámos o nosso convívio e conversas, o que nos levou até ao fim inevitável. Há sempre um dia.
Mas... nem tudo é trabalho. Um copo em boa cavaqueira entre amigos corta a rotina e conforta a alma.



[Lx. 20.05.97 / Meu Caro Vieira de Sá / Conforme te falei envio-te as minhas últimas publicações - 5 no total. Agora vou deixar a malta respirar... eu próprio preciso também de repouso! Especial atenção merece a última, acabada de sair na Vet. Técnica. / A reunião de sábado 17 foi ótima. Bom convívio e amena cavaqueira. Bom vinho! Comida ótima e a Vossa inultrapassável hospitalidade. / Foi bom. Obrigado. Meu e da Gina. Cumprimentos nossos a tua mulher. / Um abraço amigo / do Martins Mendes]
Com este cartão de Martins Mendes, escrito há 12 anos, recordo hoje um encontro de amigos em minha casa que me cobre de saudade de um tempo em que, apesar das idades já provectas, ainda nos podíamos dar ao luxo de pensar em futuros.
Hoje, a tarefa é transmitir experiência passada. O mundo não começa com cada um, como a juventude pensa.


Fernando Vieira de Sá
***

Associo-me a esta homenagem, recordando os nossos encontros nos lançamentos dos livros de Vieira de Sá e um telefonema que me fez felicitando-me por essa inicitiva editorial. Deixo aqui, também, três citações que colhi de dois dos textos a que se refere Fernando Vieira de Sá:
«Os que me conhecem, sabem que não sou especialista em questões de Ecologia. Situo-me entre os homens comuns que se preocupam com as consequências das desigualdades extremas existentes entre os países do chamado "terceiro mundo" e as grandes potências industrializadas, e com as tragédias que resultaram da simples extensão aos trópicos das técnicas agrícolas dos países avançados. Preocupo-me também, naturalmente, com os riscos tecnológicos - o risco do ozono, o risco nuclear, o risco biotecnológico.»
[«Nota Breve: A Propósito de uma Tradução», in Revista da Ordem dos Médicos Veterinários, Dezembro de 1996]
«O problema é que os habitantes de provavelmente nove décimos do continente africano - o tropical que mais nos interessa - passa fome. Fome de "comida" e não apenas de proteínas de origem animal... O mesmo talvez se poderá dizer de vastas regiões de outros Continentes com populações igualmente carenciadas! A Natureza não ajuda e o Homem - "os Homens" - com ela colaboram, matando, destruindo, inutilizando. Em vez de sementes plantam minas... Vejo as imagens da televisão e interrogo-me, de aqui a quantos anos os habitantes do Afeganistão ou do Paquistão e de outros países terminados em "ão" serão capazes de produzirem aquilo que comem ou terão dinheiro que pague apenas o transporte dos alimentos que outros mais felizardos deitam para os caixotes do lixo?»

[«Cartas ao Editor (...), in Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias (2002) Supl. 117: 1-16]
«Insisto que é erro crasso decretar que os problemas (científicos, económicos, humanos, etc.) são os mesmos "desde o Minho a Timor" ou da Holanda à Indonésia ou de Cuba à China... Globalização sim... "ma non troppo"! Querer contrariar, corrigir ou modificar a natureza, ignorando suas leis, pode ser o fim dos globalizadores...»

[Ibidem]
Recordarei sempre a sua extraordinária simpatia e modéstia, qualidades que só as grandes inteligências e os homens bons conseguem assumir, para nada necessitando de se pôr em bicos de pés.
Luís Guerra

domingo, 5 de julho de 2009

VASCO GONÇALVES - PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA

O texto de Vieira de Sá, evocando Vasco Gonçalves em mais uma passagem de aniversário da sua morte, deu origem a três comentários, dois enviados directamente para a caixa de comentários do referido texto e um que nos chegou via correio electrónico. Porque o exemplo de Vasco Gonçalves não pode cair no esquecimento, trazemos ao corpo do blogue os comentários de Júlia Coutinho, Miguel Urbano Rodrigues e Ruy de Paiva e Pona, a quem agradecemos esta participação.

Querido Fernando,

Fico sempre seduzida pela maneira afectuosa e simultâneamente pedagógica como evocas os amigos da tua vida.Vasco Gonçalves foi, para além do amigo que evocas, um homem excepcional a quem todos muito devemos. Foi a nossa utopia tornada realidade... ainda que por pouco tempo... porém, o suficiente para ficar na História como o Grande Amigo do Povo Português. Pena não ter seguidores.
Júlia Coutinho [19 de Junho de 2009]

PARABÉNS!
Escasseia-me o tempo para acompanhar o teu blogue, mas vi hoje a magnífica foto do General com a D. Aida, e alguns textos teus, todos no teu nível. Parabéns pelo bom trabalho que estás a realizar. Abraço fraterno
Miguel Urbano [19 de Junho de 2009]
Meu Caro Fernando:

Li, com todo o interesse, o in-memoria que escreveste comemorando o 4º aniversário da morte do General Vasco Gonçalves. Nele encontro, uma vez mais, toda a tua delicadeza e sensibilidade em relação àqueles que merecem, ou mereceram, o teu respeito e a tua amizade.
O General Vasco Gonçalves foi um militar culto, inteligente e com “larga visão progressista” como dizes, preocupado com os problemas sociais e com a sua solução. Penso, porém, que Vasco Gonçalves foi, sobretudo, um homem sincero e honesto, um homem de bem, um homem bom...
Com o 25 de Abril, julgou chegado o momento de dar execução aos seus sonhos. Porém, com a ingenuidade de todos os grandes reformadores, habituado a comandar tropas que lhe obedeciam, esqueceu toda a resistência e inércia da sociedade cujas regras de vivência pretendia modificar, em beneficio dos mais fracos.
Não me parece que a resistência a que me refiro seja apenas a das classes dominantes. Também essa inércia e resistência se verifica, em grande escala, na classe dos dominados, daqueles que iriam beneficiar com as reformas do sistema económico.
Diz o povo que:

“Quando a esmola é grande, o pobre desconfia...”

É nessa desconfiança, na sua experiência de milénios, que reside toda a sua resistência à mudança e aos reformadores...
No teu texto, dizes que foram quatro os governos provisórios presididos por Vasco Gonçalves; é verdade, mas não esqueças que todos eles se estenderam, cumulativamente, ao longo de um ano... Um relâmpago fulgurante, momentâneo, face às centenas de anos requeridos...
Tu, homem de cultura, certamente leste o Êxodo, o segundo livro do Pentateuco dos judeus, no qual se descreve a acção de um grande reformador da sociedade do tempo... Verdade ou mito, descreve-se neste livro a luta de Moisés para libertar os judeus, escravos, oprimidos e explorados pela classe dominante do Egipto.
Pois bem, se foi relativamente fácil vencer a classe dominante; foram os escravos, os explorados, que se revoltaram protestaram, quiseram mesmo assassinar Moisés, o seu libertador... Foram, necessários quarenta anos[1] para levar este povo rebelde de escravos para a terra prometida, a terra onde corria leite e mel...
A primeira geração não chegou lá...
O Prof. Abel Salazar, num dos seus livros[2], diz que, citando de cor,

«Sob o ponto de vista económico, social, intelectual e emotivo, o mundo actual tende a sair fora dos limites do seu Sistema Histórico, mas reage contra esta tendência porque outro Sistema Histórico significa outra civilização. Ora este Presente é já Passado e simultâneamente é já Futuro pois que o período de declínio de um Sistema, o seu período de decadência é, ao mesmo tempo, o prelúdio de um novo Sistema. Por esta razão, a decomposição, a desagregação actual está grávida de futuro e contém nas suas entranhas um mundo novo, uma nova civilização mas num reflexo instintivo de vida e de conservação, reage e tenta conservar o seu próprio Sistema.»

A passagem, de um Sistema para o outro Sistema, exige tempo...
Vou terminar estas tão longas divagações. Com elas quis encontrar uma explicação para o facto, que referes, do nome do General Vasco Gonçalves nunca ter sido referido na última comemoração do 25 de Abril nem ter sido lembrado no quarto aniversário do seu falecimento.
Lembraste-te tu!
Lembraste com saudade e respeito pelos valor material e mental pela humildade que demonstrou ao aceitar desconsiderações à sua pessoa perante a consideração de valores mais elevados. Mas, sobretudo, lembraste Vasco Gonçalves como um grande amigo e, isso, releva tudo o mais...

Um abraço do

Ruy [30 de Junho de 2009]
[1] Nesses tempos longínquos os anos eram, possivelmente, muito maiores que no nosso tempo!
[2] Abel Salazar – A Crise da Europa, Lisboa, Edições Cosmos, 1942.