sexta-feira, 28 de maio de 2010

TEMPO DE ANIVERSÁRIO, COM ALGUM ATRASO...

Os livros e os amigos nas sessões de lançamento, todas realizadas na Associação 25 de Abril, com excepção de Autópsia a Um Departamento Científico do Estado, apenas com apresentação na Internet, já com este blogue em funcionamento. A plateia dá o calor da amizade, Miguel Urbano Rodrigues apresenta Ecos do México e José Manuel, meu filho, regista o momento (Manuel Machado Sá Marques tinha apresentado Cartas na Mesa e Urbano Tavares Rodrigues Viagem ao Correr da Pena), Diogo Gonçalves aguarda autógrafo, Vasco Gonçalves e Luís Guerra (dois Amigos sempre!) conversam descontraidamente e, no final, a confraternização entre amigos.

Aproveitando este aniversário do meu amigo Luís Guerra (28 de Março, mas que eu confundi e anotei em 28 de Maio), para além de o felicitar por vencer mais um ano de vida que, em todos os sentidos se tem espelhado como a de um homem com as virtudes que mais embelezam a vida (... há gente para tudo!) dando-lhe exemplo de um virtuoso e requintado gosto na produção editorial, conseguindo transformar um naco de prosa, fazendo do processo oficinal uma arte de cativante sensibilidade no arranjo dos textos, gravuras, chamadas à margem, etc., proporcionando uma leitura agradável e fácil consulta, tudo numa apresentação gráfica impecável em todos os aspectos, com tudo isso construindo uma relação de gratidão pela ajuda da pessoa certa, íntegra e competente, levando-me a congeminar, como uma prosa chã, submetida a uma cirurgia estética, se transforma numa atraente peça bibliográfica apetecível à leitura e ao prazer de a ter entre as mãos.

Pensando em antecedentes, foi com essa pessoa, agora meu grande amigo e promotor dos meus livros de memórias e deste blogue, que um dia, por acasos da vida, nos encontrámos ao virar da esquina após alguns anos de silêncio, e nos abraçámos e nos perguntámos pelas vivências de cada um. Quanto a mim, que ao tempo tinha um livro de memórias para publicar, perguntava-lhe se me recomendava alguma editora que o publicasse, isto porque o meu conhecimento do Guerra vinha do tempo em que eu publiquei um livro, O Reino da Estupidez nos Caminhos da Fome - Memória de tempos difíceis, editado pelas Edições Cosmos em 1996, onde Guerra trabalhava como director editorial e aí nos relacionámos por algum tempo. A vida, porém, correu e cada um por seu lado. Ficou a recordação, sem nos apercebermos do tempo que passou até àquele momento.

Falando então de trabalho perguntava o Guerra o que eu fazia naquela altura, respondendo-lhe perguntando se me recomendava um editor para um livro de memórias que havia escrito, ao que ele respondeu sem hesitação: «Eu». Fiquei atónito e logo aí marcámos encontro para concretizar o assunto... e assim inaugurámos o renovado relacionamento que se manteve em hibernação por alguns anos, hoje mantido com grande satisfação pelo menos por minha parte, mas dele e de sua mulher e filhos só tenho provas de amizade. O Guerra então informa-me ter aberto uma pequena empresa, também editora, a «Moinho de Papel», e que teria muito gosto em o editar, até por se tratar de memórias, tema que o atrai. Foi assim que publicámos, entre 2004 e 2008, quatro títulos cuja apresentação convida a penetrar na leitura da prosa chã, por vezes criticando e beliscando «intocáveis» que sempre lhes custa engolir o marmelo como foi o caso do título Autópsia a um Departamento Científico do Estado - Livro Branco do Departamento de Tecnologia das Indústrias Alimentares. É a lei da vida. Lá diz o ditado: «Quem anda à chuva, molha-se». Por estas e por outras nos bordaderos dos corredores (antigamente dos cafés) não sou bem visto, o que não é para admirar, levando-me por vezes a dizer: «Seria pior não dizer nada». O combate de opiniões diverte-me, mas frente-a-frente. E, por vezes, quando dizem bem desconfio, nunca se sabe. A vida vivida exige contrapartidas e, a não ser assim, a vida é como uma água choca. Mas há quem goste - as larvas dos mosquitos (cabeçudos), por exemplo.

Com esta diatribe é tempo de terminar, mas não sem voltar ao princípio deste texto e sem vincar a grande contribuição que Luís Guerra trouxe aos meus devaneios, os quais nesta fase da vida me permitiram viver uma solidão que só se satisfaz vivendo uma vida sempre vivida com entusiasmo em todos os momentos, sem queixume. Daí as memórias.

Obrigado querido Amigo Luís Guerra pelo seu contributo que tanto me ajudou nesta ponta final. Abraço-o alargando o amplexo, cingindo essa bela família, sua mulher e filhos que muito estimo.


Um grande abraço,

Fernando Vieira de Sá

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O VULCÃO DA ISLÂNDIA E A CRISE ECONÓMICA DO MUNDO

O Mundo, e em particular a Europa, acorda um dia e, sem aviso prévio, assiste na TV a um arrepiante fenómeno da Natureza que jamais tinha ocorrido na sua globalidade desde que a Terra é Terra, tendo sobretudo em conta a exorbitante população do planeta e correspondente substrato que a civilização produziu.
Quer isto dizer que não é propriamente o fenómeno em si que arrepia e provoca perplexidade, mas sim o mundo cada vez mais habitado e mais desenvolvido. Paradoxos.
De repente - digo - em poucas horas, e depois dias após o anúncio trágico de que o vulcão da Islândia, em silêncio há 100 anos, volta exuberantemente à actividade, soltando arrepiantes montanhas de fumos da mais perversa perigosidade, atingindo entes vivos e sobremaneira os motores dos aviões, deixando milhões de pessoas paralisadas em toda a Europa, mergulhando-se assim numa catástrofe que não tem paralelo, com todas as inevitáveis consequências. Não vale a pena descrever mais sobre os momentos que se seguiram e continuaram a produzir em cadeia, indo ao âmago da vida social e global em que se integra o Mundo. As consequências não têm limite, o Mundo muda estupefacto. O fenómeno não tem antecedentes.
A isto chama-se globalização, cuja etiquetagem é já da rotina dos tempos actuais.
Ao assistir ao desenrolar do fenómeno e às notícias de todas as televisões do Mundo, dando conta dos reflexos próximos e distantes que, dir-se-ia não deixar ninguém directa ou indirectamente afectado por um fenómeno que ainda na véspera à noite parecia correr bem, exactamente porque num dado momento o tampão do vulcão, não aguentando a pressão interna, rebenta, Esse que era a chave (ou uma das chaves) do segredo infernal, cerne do aparelho que regula a vida do planeta.
Naturalmente, como qualquer cidadão do Mundo, fiquei suspenso das últimas notícias tétricas que continuavam a chegar e que são do conhecimento do Mundo inteiro, não vale a pena mais comentários. Da minha parte, à medida que se comentavam todos os aspectos do magno acidente e em termos de comparação, deu-me para comparar toda esta globalidade e secretismo contido no perfil da montanha vulcânica, o qual por razões inexplicáveis corta o silêncio, com a Crise Económica, também, por sua vez, de tanta raridade que, tal como o vulcão, parecia não existir com tanta gravidade.
De tal modo a comparação é fácil que, se quisermos ilustrar a crise, bastaria sobrepor as imagens da crise vulcânica, com as respectivas legendas, com a crise económica, submetendo as legendas da evolução às verificadas no vulcão. Assim: ruptura, alarme, primeiras consequências, segundas consequências em cadeia, crise, prejuízos em alargamento de consequências, caos, etc., construindo-se a metáfora ilustrada.
É bom reflectir e tirar a conclusão de que a crise económica do Mundo em geral, e de Portugal em particular, tendo uma linha de nascimento, desenvolvimento e efeitos, é uma crise como a crise vulcânica a que se assistiu, ao lado da profunda crise que assola a Europa e o Mundo com todas as consequências que fazem sangrar as economias.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

«O COMUM DA TERRA»

Vem ao caso a conferência proferida por Vasco Gonçalves, a convite da Câmara Municipal do Porto, no ciclo de conferências promovidas para a comemoração do 30º aniversário do 25 de Abril, e que deu origem a um livro (Vasco Gonçalves, No 30º Aniversário do 25 de Abril, Porto, Campo das Letras), do qual possuo um exemplar com uma saudosa dedicatória que me honra e enternece e onde se encontra a reprodução de um cartaz de Armando Alves com poema de Eugénio de Andrade que aqui também reproduzimos. FVS



O COMUM DA TERRA
(Vasco Gonçalves)

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse era tu: inclinação da água. Na margem
vento areias mastros lábios, tudo ardia.

Eugénio de Andrade

VASCO GONÇALVES (3 de Maio de 1922 - 11 de Junho de 2005



VITÓRIAS E DERROTAS, NO PASSADO E NA ACTUALIDADE, LEMBRANDO VASCO GONÇALVES NO 88º ANIVERSÁRIO DO SEU NASCIMENTO.

VITÓRIAS
Aljubarrota - Porugal confirma-se como nação independente em 1583.
Vasco Gonçalves - 1º Ministro dos II, III, IV e V governos provisórios, faz as nacionalizações e evita fuga de capitais para fora do país.

DERROTAS
Alcácer Quibir - «Maravilha fatal da nossa idade» (Os Lusíadas, C. I, 6) D. Sebastião desaparece da batalha e com ele a coroa de ouro que levava para pôr na cabeça após a vitória.
Contra-Revolução (25 de Novembro) - Inspirada por um iluminista que se arroga vidente, manobra para que tudo regresse ao ponto de partida. O resultado é o regresso da pilhagem reforçada e a situação dramática do país.

Com estas poucas palavras se recorda o nome de Vasco Gonçalves, que passará à história, por enquanto encerrado numa gaveta até que chegue a hora da verdade.
Por agora é o que se sente e o que se vê. Tudo se tenta para reconstruir o passado e recuperar o sistema. Por isso, na actualidade, o nome de Vasco Gonçalves é silenciado. É bom assim. Esse silêncio representa o favor de não confundir o que não tem equivalência.

Entretanto, e aproveitando a maré, É FARTAR VILANAGEM!

Fernando Vieira de Sá