quinta-feira, 17 de março de 2011

UMA POSSE PRESIDENCIAL - TEMPO DE AFIRMAÇÕES DE ALTO NÍVEL

O CASO

«No ano de 1969, em Julho de 1969, o homem chegou à Lua e conseguiu ampliar mais ainda o âmbito da sua imbecilidade, o homem não sabe governar, nem pacificar, nem alimentar a Terra, tão-pouco sabe curar nem prevenir o cancro ou a sida, nessa altura ainda não havia sida, mas acerta com o caminho para a Lua, cada vez é mais dilatado e vergonhoso o horizonte do seu estúpido orgulho.»

Isto lê-se no livro A Cruz de Santo André, de Camilo José Cela (Prémio Nobel da Literatura em 1989), Tradução de José Carlos González, Bibliotex Editor, 2003.

A TRADIÇÃO

Uma posse presidencial na Quaresma, tempo do ano exigindo concentração dedicada aos problemas que a humanidade enfrenta, muito particularmente Portugal, E neste contexto é tempo de meditar sobre uma Posse Presidencial, no caso Cavaco Silva, debitando alguns comentários de circunstância, dada a época do ano no calendário cristão.

Assim:

A CENA

primeiro, extra-muros, nada faltou para o brilhantismo da posse presidencial, ao que se seguiu intra-muros com todo o cerimonial exigível em momentos plenos de reflexão que todos desejávamos ouvir, como seja, aquela esperança que mina a alma de um povo exausto.
Chegado esse momento, o empossado saca do texto que desbobina por cerca de 50 minutos, tudo para dizer que é neutro, charla que se confunde com uma sessão política em tempo de eleições parlamentares, cada um puxando para o seu partido. Daí nasce a confusão, ficando-se sem saber o que o empossado queria exaltar, se o Presidente, se o Governo, alterando o propósito em causa: de que se estava a falar? Daí a catadupa de discussões vindas de todos os quadrantes: todos contra todos, e todos frente à ambiguidade dos alvos a alcançar, ficando na sombra os quadros do brilho das fardas e piruetas da praxe, quando intra-muros só se oferecia chupa-chupas, deixando todos "à rasca".
Muito se poderia especular mas o que é posto à vista e ao ouvido já chega para perceber que assim não se vai lá.
Lá diz o Prémio Nobel de Literatura de 1989, na página 17 da obra citada:

«- Acredita que os crimes se preparam sempre em silêncio?
- Sim, os bons crimes sim, quanto aos outros, que interesse tem? Preparam-se sempre em silêncio, como deve imaginar, e com muita delicada discrição, tanta, que às vezes não se descobre a intenção até ao momento exacto da punhalada ou do veneno, a prudência nunca é demasiada, a prudência é um aliado firme.»

[Nota em 24-III-2011: Se fosse preciso um exemplo, bastava recordar o que se passou recentemente com as trapalhadas do primeiro-ministro José Sócrates, ao levar a Bruxelas propostas em segredo, e as consequências do seu acto. E a história continuou, hoje, um dia depois do chumbo do PEC IV, agora com as trapalhadas do pretendente ao mesmo lugar, que já fala em novos aumentos, mas esconde muito mais do que aí vem].

Sugiro, neste ponto, que se volte ao texto FOME - NÓ GÓRDIO DO PROGRESSO DA CIVILIZAÇÃO, de 27 de Fevereiro de 2010.

CONCLUSÃO

Fome e Capitalismo são antídotos irreversíveis, prova-o a História do Mundo.
A esmola é o ópio da Sociedade, a Vergonha da Civilização, É a má consciência a manifestar a indiferença. Isto numa Europa a cair de caducidade, um museu de velharias fora dos tempos, exigindo outra mentalidade mais arejada, mais uniforme, mais unitária.


Fernando Vieira de Sá
Lisboa, Março 2011