Como resposta a um artigo de opinião publicado no suplemento «Visão História/Cuba - 50 Anos de Revolução» [nº3/4-XII-2008], da revista Visão, recebemos o seguinte texto de reacção e esclarecimento da autoria de Fernando Vieira de Sá, desfazendo a confusão, nada ingénua, que o autor do artigo estabelece entre os termos «assassino» e «guerrilheiro».
Soube por um qualquer órgão de comunicação que uma próxima edição do suplemento «Visão História», da revista Visão, seria dedicado a Cuba, necessariamente à sua revolução que, em 1 de Janeiro de 2009, completou 5o anos de idade, continuando a alimentar paixões, tanto no sentido heróico e patriótico, como no repúdio da ameaça à ordem e à paz social mantida por gente credenciada para manter a região caribeña conformada com a história e dependências que lhe calharam em sorte; e, com isso, garantindo os privilégios do vizinho acautelados. Perante este anúncio, e interessado pelo assunto, já que acompanhei a revolução desde os seus primeiros dias, igual a todos os que gostam de sentir-se cidadãos do mundo, mas também, mais tarde, por questões relacionadas com problemas que tinham que ver com algum auxílio que eu poderia proporcionar ao desenvolvimento da produção leiteira do país, na senda da revolução agrária e no âmbito da minha especialização em leitaria tropical (ver, neste blogue, as etiquetas «Lechería Tropical», «Cuba», «Ramón Castro»), logo acorri ao ponto de venda dos jornais, encomendando o suplemento da revista que saiu em 4-XII-2008, pagando 4,90 €, nada barato.
Chegado o dia D, prantei-me frente ao quiosque e, mesmo ali, por azar meu, abri o suplemento da revista pela folha final e deparei com um artigo de opinião com uma fotografia do autor, José Ribeiro e Castro, no canto superior esquerdo. De chofre, salta-me à vista esta chamada de atenção para o alvo de estimação seleccionado, qual comprimido para engolir ao pequeno almoço:
«CUSTA ACREDITAR
NA EVOLUÇÃO
DE UM REGIME QUE
TEM COMO ÍCONE
DE EXPORTAÇÃO
UM ASSASSINO:
"CHE" GUEVARA»
Agora sou eu e, certamente, muita gente a quem custa a acreditar que uma declaração deste teor possa ser proferida por alguém minimamente instruído que, desde logo, aponta para um analfabetismo visceral de quem se apresta a botar loas em questões complexas, quando ignora canhestramente os significados de «assassino» e «guerrilheiro» (todos sabem ter sido Che Guevara um guerrilheiro), que todos os dicionários definem como sendo antinómicos, com cargas morais e objectivos opostos, que não são susceptíveis de sobreposição. Só uma bacorada saída de um ignorante poderia escrever o que se lê em letras gordas neste quadradinho de prosa que acaba por se converter em diploma de inscícia do indivíduo que o escreveu. Mas, escrevendo-o, ofende o idioma (por chocarreado), ofende a própria revista, retirando-lhe probidade e decoro, cujo revisor talvez tivesse confundido «liberdade de expressão» com «ignorância», suporte de uma libertinagem que fere a verdade exigível por qualquer leitor respeitoso.
Assim, o autor prestou um mau serviço ao seu partido (assunto interno) e à Instrução Primária Nacional, que aqui se manifesta canhestramente. E foi uma má companhia para os restantes colaboradores. Cada um balizará os efeitos, de acordo consigo próprio.
É este o meu desapontamento, tratando-se da Visão onde, neste suplemento dedicado ao cinquentenário da revolução cubana, escrevem pessoas que mereceriam melhor companhia, pelo menos maior decência e alfabetização.
Só a possibilidade deste esclarecimento público, oferecido de bandeja, paga o custo da revista.
Fernando Vieira de Sá
Janeiro de 2009
1 comentário:
Caro amigo,
Bastante oportuna esta lição de português mas, também, de cidadania.
Sugiro que o esclarecimento seja enviado para a revista Visão, para as cartas dos leitores, com pedido de publicação.
E só espero que publiquem mesmo!
Se todos os cidadãos portugueses tivessem a tua lucidez (ou metade...) seríamos um país altamente evoluido que daria «cartas» ao mundo.
Abraço amigo
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