sábado, 6 de dezembro de 2008

CONFISSÃO E CONFIDÊNCIA

O meu livro Autópsia a Um Departamento Científico do Estado - Livro Branco do Departamento de Tecnologia das Indústrias Alimentares, dedicado aos trabalhadores do Estado não foi bem olhado, se é que os dirigentes de qualquer grau conhecedores, lho mostraram, potenciando as angústias que se soltam nas avenidas, exigindo os seus mais intrínsecos direitos. Às vezes falta qualquer coisa, quiçá convicção, para que se leve os afectados e responsáveis a esquadrinhar as razões (autópsia) das dores das maleitas, mais do que o boiar à tona da água. Eu sei que os tempos são de recessão e o dinheiro não dá para tudo, e é preciso criar prioridades, como sejam bandeiras e cartazes, essas coisas que se colam nas paredes, que se lêem depressa e não se fale mais nisso... missão cumprida. No entanto, não está fora de questão a necessidade de Estudar (com letra grande) as profundezas dos problemas, e que não se pense que tais estudos são só para os caturras desprovidos de sentido reivindicativo, mas também - e sobretudo - para os porta-bandeira e «figuras de proa», qual caravela seiscentista, com as velas ao léu para que todos as vejam e cumprimentem.
Não quero de modo algum impingir o livro a quem quer que seja, e nunca me atreveria a publicá-lo sem ter uma opinião sobre o seu interesse, o que me foi brindado com generosas palavras pela pena de um destacado parlamentar e militante sindicalista, fazendo, inclusivamente, a apresentação do trabalho que pode ser lida neste blogue e que tem todo o meu reconhecimento. O livro expressa uma ampla experiência de 20 anos discutida em todos os aspectos do topo à base da hierarquia. Alguém já fez igual? Seria de pensar antes de arquivar. Somos o que somos, mas é preciso ser-se mais. Sem ler e investigar não se vai lá.
Eu tenho pensado muito neste fenómeno (este mesmo da autópsia) procurando razões lógicas para a enigmática defecção observada de um bater de porta.
Alea jacta est - os dados estão lançados. Por erro pus sempre o álibi do lado dos destinatários e presumíveis motores das respectivas organizações, absolvendo o autor (eu) da indiferença dos responsáveis e aderentes do sector a quem o livro foi dedicado, não esquecendo o seu anúncio na Internet. O pensar é sempre um bom sistema de procurar a verdade. Pensar é investir. De qualquer modo, um destes dias em que se acorda com o raciocínio mais despegado de convicções preconcebidas, veio-me de repente um arejo de racionalidade, caindo instantaneamente de borco numa interpretação do fenómeno que aqui estou comentando. Outra verdade.
ESTA A CONFISSÃO. AGORA A CONFIDÊNCIA
A confidência só se lê na Internet quando se quer ler o que lá se procura, o que dá proveito, o que se quer encontrar, daí a segurança da confidencialidade da seguinte declaração que fica aqui só entre amigos interessados na consulta deste blogue. Pensemos: aqui para nós, os da «velha guarda», o verdadeiro culpado deste desinteresse aparente ou real por parte dos sindicalistas, sindicalizados e funcionários públicos a quem dediquei o trabalho, mas que até hoje, parece, não souberam do caso por falta de consulta da Internet. O responsável, repito, fui eu. Com todas as letras: EU.
Cá vai: a minha falta de psicologia da comunicação verbal e escrita ao escolher como título para o livro a prosaica palavra «autópsia», escrita sobre um fundo de linhas esfumadas num cinzento de luto aliviado, foi fatal. Metia-se pelos olhos dentro. Mas, não aconteceu. Tudo foi como se nada se tivesse passado. As consciências esqueceram e estão com Deus misericordioso, que tudo desculpa. Eu não queria acreditar, quando esgotados os pressupostos, aconteceu abrir-se o escaninho da caixa craniana e, num golpe de asa, surgiu num momento desfocado fora de horas, filosofando sobre tantas que nos alimentam a vida e nos ensinam, embora nem todas confortáveis ao espírito.
Na verdade não lembra a ninguém metaforizar com palavra de tão mau gosto (autópsia) e, ainda por cima, dirigida a uma população martirizada e supersticiosa por tanto desabamento de infortúnios que vêm caindo sobre os seus salários e garantias usando a tal palavra demoníaca.
Dêem-se as voltas que se quiser. Autópsia, seja ela ao Papa, a um camaleão ou a um Serviço Público, cheira sempre a morgue, a cadáver, a mesa de dissecação anatómica, a tripas ao léu, a mau cheiro. O título certo, apelativo, que deveria ter sido sugerido por uma empresa especializada em marketing seria (ou é) qualquer ideia que se abra à vida, que seja futuro, amor. Por exemplo, Afrodite...


OS SEGREDOS DE AFRODITE
SONHOS E PESADELOS DA FUNÇÃO PÚBLICA
Título e subtítulo sugerem, logo em primeira análise, a dupla noção de Beleza da Verdade Nua e Crua e Amor ao Trabalho, muito pouco reconhecido. Querendo ir mais longe com palavras derivadas, encontrar-se-ão decerto outros estímulos que não são para desperdiçar. Afrodi é a raiz.

Ilustração de A. Calbet

Ilustrando, esta imagem sexy enchendo a capa com a gravura da deusa grega do Amor, Afrodite, fazendo por si só passar a mensagem escaldante de um alto espírito de verdade, que só se cumpre com o amor puro de uma deusa da Antiguidade Grega.

Tudo isto fica aqui em segredo. Não desejo interromper outros silêncios, esses por carência de fair play.

Fernando Vieira de Sá
Lisboa, 6 de Dezembro de 2008

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