«... por quase dez anos de deambulação pelo Mundo foi minha principal tarefa estudar e propor medidas de desenvolvimento leiteiro nos mais diversos países da Ásia, África e América Latina, a maioria pertencente à zona intertropical. [...] Convivi com chineses, indonesos, indús, turco-mongois, uzbeckes, kurdos, árabes, bantus, zulus, coanhamas, guaranis, incas, jivaros, colorados, aztecas, tarascos, tarahumaras, totonacas, mayas, etc., etc., que à parte a côr da pele, o formato dos olhos, o tipo de cabelo, o perfil crâneo-facial, o grau de hibridação, ou seja, o traço antropológico ou a língua em que se expressam e que os diferencia, um grande traço comum os une, que é a sua dolorosa luta pela sobrevivência, a sua pungente existência entre infindáveis riquezas, exploradas, aliás, pelo mundo industrializado. Após duas ou três voltas ao Mundo, ou após dez anos de contactos com tais populações fica a sensação da extrema semelhança dos problemas que afligem esses povos, dos quais o mais relevante é o da exploração a que são submetidos pelo mundo industrializado e que tem feito com que o tipo de intervenção técnica neles desenvolvido, se tenha dirigido mais à exploração das riquezas renováveis e degradação das não renováveis, do que à defesa e valorização do seu património.
Este contacto exerceu forçosamente uma grande influência nos meus conceitos de técnico e cientista, pois creio que a grande tarefa que um e outro deverá assumir como prioritária, será a de tentar reduzir em forma sistemática e progressiva o grande fosso que separa o Norte do Sul, o explorador do explorado, o mundo industrializado do mundo subdesenvolvido.»
F. Vieira de Sá, in «Introdução» de Curriculum Vitae apresentado, em Janeiro de 1980, ao Júri do Concurso Público para Investigador-Coordenador do Laboratório Nacional de Investigação Industrial do Ministério da Indústria.
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