terça-feira, 5 de outubro de 2010

PROFETAS DA NOSSA TERRA

(Monumento a Bandarra, «poeta, profeta e sapateiro» - Trancoso, Agosto de 2010)

Na sequência das minhas anteriores notas sob a epígrafe «MS/AP - Um Socialista às Direitas», onde se escreve sobre profetas e profecias, não resisto a voltar ao tema com mais algumas palavras que, pensando um pouco, não deixam de ter algum interesse, relacionando-os entre si e analisando o fenómeno, comparando convergências quanto às suas respectivas génesis, o que já pode suscitar alguma teoria sobre ocultismo, dando ciência ao fenómeno.
Pensando em profetas não deixo de recordar, só por gentileza, a memória de nosso profeta de estimação que foi Bandarra (Gonçalo Anes de seu nome, natural de Trancoso, 1500-1566) - Bandarra, alcunha: adivinho, profeta, etc. - fazendo profecias de largo espectro, o que facilita a coincidência, por vezes perseguido pelo Santo Ofício da Inquisição, por razões de concorrência na arte de exibir espectros e previsões, fazendo com que em condições de grande perturbação nacional muito alimentasse o Sebastinismo: D. Sebastião chegaria numa manhã de nevoeiro. Era a profecia - D. Sebastião, o Desejado. Profecia que acabou em mito.
Excluindo este caso, mais de índole popular que de seriedade histórica, ficam outros dois, que em épocas distantes de 150 anos entre si, mais ano menos ano, vêm ilustrar a História de Portugal e que tiveram em comum o facto ocorrido em tempos de crise profunda, ou seja, a identidade na sucessão no trono que se expressa no Sebastianismo, E presentemente os dois períodos em que o primeiro foi o da Guerra Civil pela luta da Coroa que tinha por fundo dois regimes políticos rivais protagonizados pelos dois irmãos, Pedro e Miguel; e o segundo é o caso exposto no meu anterior apontamento, intitulado MS/AP - Um Socialista às Direitas». Só nos falta agora dissecar o profeta já bem analisado por Oliveira Martins no seu livro Portugal Contemporâneo, donde retirei algumas notas, as quais, por sua vez, já retiradas e discutidas no I volume dos Opúsculos, de Alexandre Herculano, sob o título «A Voz do Profeta», preenchendo 83 páginas. A personagem é Palmela (Duque), de seu nome de família D. Pedro de Sousa Holstein. Aí, nessas volumosas análises à volta da situação política revolucionária em que Palmela toma apenas o compromisso de travar as ideias revolucionárias (o mesmo que fez MS/AP, mais tarde, no tempo do PREC) de Mousinho. O profeta constrói a profecia, sabotando o futuro sem escrúpulos de consciência, usando o travesti de «Animal Político (AP).
Quanto ao hodierno caso já nos ocupámos quantum satis. Passou à história como profeta vivo e não original. Nem por isso negou a regra: «o profeta constrói a profecia», Pelo menos, nestes casos, foi assim. O segredo chama-se «Animal Político», o que quer dizer «Troca-Tintas», falta de honestidade e moral.
De Mousinho, Oliveira Martins escreve: «No sistema das suas ideias não entrava por coisa alguma a tradição: nem histórica, nem religiosa, nem aristocrática. Era um absolutismo individualista.» (Portugal Contemporâneo, Tomo II, 6ª ed., 1925, p. 120). Algo se sobrepõe no actual adivinho; algo existe nos dois momentos históricos; um amarrado à tradição (Palmela), outro apostando na evolução (Mousinho).

Mas, nem tudo é fado. Eu gosto de assustar: «Oh papão, olha o menino!». Sendo assim também tenho direito. Pensem no papão...

Portugal, um dia, terá uma governação que governe para todos os portugueses [evolução] e não apenas para aqueles de sempre [tradição],

0 que não deixa de ser glorioso e sensato. De qualquer modo a esperança é a última a morrer... um dia virá. Veja-se: aguarde-se a próxima crise financeira recidiva. É por aí que a ruptura cientificamente acontecerá, sem troca-tintas, mas por colapso do sistema capitalista global - já esteve mais longe. Fala o Bandarra (!) de outra cultura. Falo sério.
Não sou AP, e isto que escrevo não é profecia, mas obediência à teoria da evolução do capitalismo universal que se regula pelas leis do fluxo fiduciário global. Não sendo banqueiro não sei se as minhas expressões de ciência financeira serão muito correctas. As minhas desculpas! Para bom entendedor, meia palavra basta.
É bom não esquecer que a presente crise está longe de ter terminado, verificando-se ainda sinais graves da sua presença - desemprego, falências, aumento de custo de toda a ordem em sectores de primeira necessidade. Ao mesmo tempo, são as manifestações de rua em todos os países, reunindo milhões de afectados. Tudo isto quer dizer que a próxima ruptura é já de gravíssima expressão. A fome é má conselheira.
E tudo isto sem profecia, mas uma constatação exposta por Karl Marx nos seus livros Crítica da Economia Política (1859) e O Capital (1867).


Tudo é sabido. Então??? Não me digam que é a vontade de Deus que comanda o Mundo. Não acredito. Não sou assim tão má língua!

Fernando Vieira de Sá

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