Na coluna «Opinião», de João Lopes, dedicada ao cinema e da qual sou visitante assíduo, vejo-me a ler (Diário de Notícias, 10-III-2010) um título que logo me aguçou a curiosidade: «Efeitos (pouco) especiais» (pergunto-me se acha pouco e queria mais). Logo mergulhei na sua leitura por várias razões que, aliás, todos conhecem: uma, por se tratar de João Lopes, que logo induz a uma leitura serena e inteligente; outra, pelo facto de o título me parecer oportuno, já que efeitos especiais é, nos tempos actuais, qualquer coisa que mexe com os neurónios do cidadão da rua, e nos faz pensar até que ponto esses efeitos tão especiais - tanto no cinema como na vida real - acabam por ser sujeito e não predicado da acção e que nos põe a cabeça à roda e a perguntarmos se é de exibir os avanços da Ciência e Tecnologia, incluindo a Economia, ou se é a Tese, o entrecho que se deseja transmitir e cativar.
Outra vertente muito explorada é a do «Estado da Nação», cujos figurantes, utilizando os melhores truques de efeitos especiais, nos fazem sentir que estamos vivendo no País das Maravilhas, tal a imaginação que nos ensopa de esperança e alegria de viver que mal entramos na realidade e nos confrontamos com a vida real. Temos - verdade seja dita - desempenhos magistrais que quase nos faz negar a realidade, só sentida quando voltamos à vida real, já despojados de efeitos especiais, mas vendo e sentindo a vida em sua plena agressividade.
Nestes desempenhos é difícil dizer quem é melhor em estilo de representação ou de tema: policial, drama, ópera-bufa, revista, aventuras, cowboys, etc. Em qualquer destes temas temos do melhor em desempenho, tudo devendo aos efeitos especiais, ao ponto do Zé Povinho já não saber o que é verídico ou virtual por efeito especial. Sendo assim, a vida é boa. Lá estará o hemiciclo afinado, para não haver fífias, quando chamado à representação democrática de efeito especial.
Valha-nos a imaginação.
Para ajudar, dentro de dias vem a visita do Papa, que cai como sopa no mel, pois não deixará Sua Santidade de rezar para que não se perca a fé. Pela minha parte já me sinto mais confiante. Não faltarão os efeitos especiais, E estes vêm do Céu, têm valor acrescentado. Além disso, sempre é uma folga para o primeiro-ministro repousar uns minutos, pois não estando acima de tudo e de todos tem de dar o canastro ao manifesto.
E já agora não se esqueça de mandar 1€ de «arredondamento» para o Jardim Atlântico que é outro efeito especial, este em formato de promessa à Senhora de Fátima.
Para terminar: haverá alguém neste país que esteja acima do efeito especial? Antes de responder, «Páre, Escute e Olhe» para a esquerda e a direita.
Obrigado João Lopes por me ter chamado a atenção para os efeitos de que tanto se fala, usa e abusa. É cómodo estar por cima de tudo. Pelo menos é estratégico. E, talvez assim, se evitem enganos.
Fernando Vieira de Sá
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