sábado, 16 de janeiro de 2010

ATRASOS DE VIDA

ESPECIALIDADE DA COZINHA POLÍTICA DA GOVERNAÇÃO PORTUGUESA, COM PALMINHAS PARA INAUGURAÇÕES, VELAS DE ANIVERSÁRIO E EMPOLGANTES ORATÓRIAS.
Com uma nota de fim de página, que abaixo reproduzo, do meu livro Autópsia a um Departamento Científico do Estado - Livro Branco do Departamento de Tecnologia das Indústrias Alimentares (2008), recordo hoje (2010) a poética dor do desalento de assistir à derrocada do alimentado sonho de contribuir para o progresso do país, tantas vezes afrontado, tantas vezes demolido e, neste caso, com foros de terrorismo, dispensando os clássicos, bastando-nos os domésticos que não pecam por eficiência em artes de circo e ilusionismo, cujas provas estão à vista de todos os que queiram ver.
O plano do DTIA - Departamento de Tecnologia das Indústrias Alimentares está feito em estilhas, o que corresponde a dezenas de anos de retrocesso, para recomeçar qualquer coisa que não se sabe, sem metas conhecidas, sem estudo, sem conteúdo, ou simplesmente esquecer. Pura tontaria. Não se conhecem projectos... logo se vê. Assim é a vida nacional. A alta finança agradece.
Feita esta justificação, aqui se dá conta das transcrições, para relembrar e meditar:
1º - Nota de fim de página:
«[Nota hodierna - Aqui se poetiza o desalento trazido pela História Contemporânea ao qual as estruturas laborais são sensíveis e reflexo. Outras há chamadas «bolsa de valores» navegando no espaço cibernético. Não precisam de operários nem agricultores, nem laboratórios, apenas correctores. Essas ignoram o equilíbrio social e o boletim meteorológico].»
2º - O carpido do vate:
«E agora, outro ponto final
Que horas lentas
São essas que se vivem
E não são nossas
Nem têm ideal?!
Que horas são essas
Que não são nossas
E nos arrastam
- Sem sermos nós a decretá-las -
Procurando o nada
E do nada fazer
O que não queremos ser?!
Que sonhos sonhamos
Nesta praia sem mar
Com barcos varados no areal
Com os olhos fenícios pintados na proa
A julgar o eco dos séculos
Chorando o silêncio da catedral da noite?!
E os remos por ali atirados
Prostrados
Sem os braços
que partiram para outra campanha
Com rota marcada
No mapa da esperança.
Anónimo»
Aqui está em forma poética o libreto de ópera bufa em palco de genuína portugalidade, onde os tenores e os contraltos afinam a voz.
Fernando Vieira de Sá
Lisboa, 15 de Janeiro de 2010

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