segunda-feira, 9 de novembro de 2009

MURO DE BERLIM

Passam hoje vinte anos sobre a mais badalada das quedas de qualquer muro existente à face da Terra.
No meu livro O Reino da Estupidez nos Caminhos da Fome - Memória de tempos difíceis (Edições Cosmos, 1996), sob a epígrafe «O fim da guerra fria põe tudo em causa» [pp. 73 e ss.] pode ler-se:
«O Muro de Berlim ruiu e o seu entulho fez a prosperidade de uma nova indústria de amuletos e bentinhos, a reforçar o filão das relíquias milagreiras, os escapulários das terras do Evangelho em vias de extinção. A poderosa União Soviética desmoronou-se como um baralho de cartas. Abolidas a foice e o martelo, ficou em seu lugar o histrião desfraldando o pavilhão - matriz da águia bicéfala - da fulgente, autocrática e imperial grande Rússia, agora de regresso, metamorfoseada de democrática, ao convívio das nações livres (?), depois de sepultada a medonha tirania. [...] Afirma-se mesmo, com dionisíaca e insciente euforia, que o Socialismo perdera a razão de ser por já não haver lugar à luta de classes, só porque foi decidido não haver classes. E também não haver ideologias. [...]
O que jamais ninguém poderia antever [...] é que se saía da estável guerra fria por defunção da supina causa malfazeja, não para desfrutar a cerúlea paz celestial, abendiçoada por todas as virtudes remascadas em prândios de oratória, marconizada por anos e anos de azucrinante e impiedosa penetração pela casa do cidadão adentro [...] aquela a quem precisamente e especialmente se prometeu a felicidade eterna [...]»

Acabou a Guerra Fria mas o que menos desejavam, não só os Estados Unidos da América como a Europa, era a unificação da Alemanha, de uma Alemanha responsável por duas Guerras Mundiais, com milhões de mortos e destruições olímpicas de cidades e países. O que sempre esteve em causa foi precisamente o desmoronamento da URSS, do Poder Popular e, já agora, acabar com as classes sociais por eliminação da classe operária, herdeira da escravatura, e como tal perdendo direito a cidadania, tal como na Grécia Antiga onde nasceu a tal democracia. Só que na actualidade a democracia respeita a toda a humanidade, com direito a desfrutar e a partilhar das riquezas da Terra.
O acabar com as classes traduz-se, neste caso, em considerar exactamente a classe proletária de fora da doutrina capitalista dominante. É isso que se quer. Todos o sabem, mas não o dizem, apenas o silenciam.
Fernando Vieira de Sá

Lisboa, 9 de Novembro de 2009

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