Sob o título geral de «O DRAMA DAS PME», recebemos para publicação no blogue dois textos de Fernando Vieira de Sá. Deixamos aqui hoje o primeiro, sobre «CONCORRÊNCIA, VALOR ABSOLUTO», uma reflexão muito actual sobre a CRISE e os «truques» que a provocaram e que estão já na origem de novos «aperfeiçoamentos da marosca».
As Pequenas e Médias Empresas (PME) são com frequência citadas nos paleios e bate-papos dos arautos da política à roda de uma mesa em qualquer canal TV, sem nunca mostrar ciência sobre fenómenos de definição objectiva e de contornos precisos gerados neste sector. É, por assim dizer, um clima que neste caso se expressa em estado de graça sem querer denunciar a verdadeira razão do mau-estar e consequências desastrosas que se vêem a olho nu. Contudo, a complexidade da questão é cada vez maior, na medida em que a doutrina da concorrência, exigindo redução de custos de produção e, por acrescento, comercialização, adoptando a teoria da concentração e monopólio, seguindo em frente com resultados progressivamente positivos, só exigindo mais para ganhar mais de um ponto de vista financeiro. Nada mais. E tudo isto funciona às mil maravilhas, já que os resultados financeiros assentam em esferas, o que deleita os investidores de 1ª grandeza, já que os de 2ª e de 3ª, etc., esses, também acabam por ser engolidos, ficando a aguardar alguma regurgitação do predador.
Eis o retrato da engrenagem e a conclusão inequívoca. Neste capítulo, a inovação é de magia, pois a imaginação para lograr melhores resultados não tem limites. É como nos crimes comuns, porque nos casos em questão a moral é de funil e os seus cérebros são consagrados especialistas em ciência financeira que, com subtileza contabilística, vão sempre à frente dos esquemas de controlo clássicos. É evidente que não são todos, mas que são muitos, são. E os operacionais também não se chamam burlões, mas outra coisa inócua, como gestores, consultores, peritos, cujo sucesso no negócio depende do segredo e não há confessionário que se diga seguro. Daí a bomba. Ninguém sabe nada, enquanto não rebenta.
O sucesso inspira a imaginação e até induz a outras fontes produtivas, truques onde se pode arrecadar mais receitas. É o caso das contabilidades paralelas fugindo aos impostos, off-shore e muitos outros truques.
Muito se poderia acrescentar sobre a dinâmica capitalista que, no auge do seu desenvolvimento, vem cair na concentração global criando a CRISE, que presentemente está em pleno desabrochar, aliás, prevista por Marx há mais de um século, prognosticando cientificamente que só no fundo da crise o socialismo teria viabilidade de implantação. É implícito que, em favor desta concentração de riqueza que absorve as economias menores, as PME estiveram sempre na linha da conversão dos parâmetros do peso da propriedade, começando pela propriedade rústica na linha da sua extinção, tida por absurda, face às novas técnicas de produção e outros factores.
Vem a propósito recordar um episódio que teve o condão da sua justeza de raciocínio nato, instintivamente puxando-lhe o pé para a verdade (aqui não foi o pé, mas o raciocínio), e vai daí cair em Marx. estava dito sem o querer... Abrenúncio!!! Passou-se isto num desses bate-papos na TV onde se juntavam três ou quatro mestres da orquestra política acarinhada, diga-se: o Zé, o Manel e o Toino, por exemplo, perorando a propósito da CRISE. Descrevia um deles a evolução da crise que (ainda) se vive. E de tal maneira o companheiro se expressava com toda a gentileza e convicção que eu, com espanto, colei-lhe imediatamente a tese que defendia com a de Marx escrita há mais de um século. Tintim por tintim, o que me espantou o arrojo, mas não estava enganado, pois um dos companheiros presente, digerindo palavra por palavra ouvida, teve exactamente o mesmo pensamento e diz: «Cai-se assim no socialismo, não é verdade?» Marx também concluiu o mesmo, como se sabe, o que quer dizer que o socialismo só se alcançará por exaustão evolutiva do capitalismo e não por rebelião das massas a quem falta os meios, por isso só em crise profunda e colapso poderão ter êxito. À interrogação, responde prontamente o mestre, sorrindo, como quem diz a palavra-chave: «Nem pensar, seria o caos, todos a falar ao mesmo tempo sem ninguém se entender, isto num processo que exige segredo, exigência, estudo, estruturas. O que há a fazer terão de ser os mesmos, já experientes, retirando da experiência as falhas cometidas, e edificar o sistema (capitalista) com as devidas seguranças reforçadas». No meu comentário íntimo, na altura, achei este pensamento profundamente ingénuo vindo donde vinha, mas monolítico, ou seja, sem outra saída credível possível, esquecendo-se que, na presente crise, não faltavam medidas já existentes de fiscalização e acompanhamento do conhecimento de todos, de cunho oficial e privado, obedecendo a regras pretorianas dirigidas ao cumprimento rigoroso de toda a operacionalidade de ambos os sistemas privado e governamental, mas a que todos os intervenientes altos responsáveis se abstiveram, de comum acordo, de recorrer e usar para todos os efeitos do controlo, o que foi determinante na presente crise, como tem sido largamente denunciado.
Deve dizer-se, portanto, que o sistema em causa poderia ser bom e precavia-se de todos os desvios da correcta acção, os quais foram abusadamente ignorados e sigilados segundo a regra de oiro do sistema.
E são estes mesmos senhores, segundo aquele amigo que, quando o outro concluía ter-se chegado ao socialismo por falência do capitalismo, respondia: «Nunca, agora com a experiência recolhida estamos em condições de todos os aperfeiçoamentos.» Quais? - pergunto eu agora? Mais sigilo? Aí está a ciência do truque pendente de uma importante investigação. Tudo para se chegar ao capitalismo absoluto, irreversível, uma espécie de divindade... já faltou mais!
Por agora, «tudo como dantes, quartel-general em Abrantes». O sigilo que se exige é o aperfeiçoamento da marosca e um seguro de risco, talvez pago pelo Governo.
Fernando Vieira de Sá
23 de Novembro de 2008
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