Diz Fernando Vieira de Sá na p. 392 de Viagem ao Correr da Pena, no capítulo já citado no texto anterior:
«Eu só vim a tomar conhecimento do meu "fuzilamento", como autor, após o 25 de Abril, ou seja oito anos mais tarde [a edição revolucionário é de 1967]. Através do primeiro contacto de Portugal com Cuba o jornalista Alpedrinha, e algumas semanas depois o Dr. Cruz Oliveira, na altura secretário de Estado da Saúde, no seu regresso a Lisboa, me procuram transmitindo-me um convite do Governo na pessoa do Ramon Castro, irmão de Fidel Castro, para visitar Cuba em agradecimento da contribuição que constituiu o meu livro para a orientação do projecto leiteiro, já então implantado. Aceitei o convite, que muito me honrou, tendo-me dado mais satisfação o dito "fuzilamento" que qualquer dinheiro que pudesse auferir pela venda dos direitos de autor de uma edição comercial. O "fuzilado", em nome de uma causa legítima, agora ressuscitado em nome de um reconhecimento. Para, no âmbito da divulgação do conhecimento científico e técnico, a maior de todas as recompensas é ter a confirmação da utilidade da sua obra, com a certeza de que para isso não contribuiu nada mais do que o seu conteúdo, o seu trabalho, e não a cunha ou lamber os pés a qualquer personalidade influente ou ainda entrar para o partido no poleiro, que no meu caso teria de ser a União Nacional ou a Legião Portuguesa para ter as portas abertas para as bibliotecas do Estado adquirirem as suas obras. Valeu a pena não vender a alma ao diabo... vale sempre a pena.»
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