terça-feira, 24 de maio de 2011

ARTE DE SACUDIR A POEIRA DO CAPOTE

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[A propósito do artigo «Revolução "sem culpas" na degradação da política», da autoria de Manuel Carlos Freire, publicado no Diário de Notícias de 26 de Abril de 2011]

Esta época do ano é rica em evocações de factos e datas, tanto na área religiosa (a Páscoa) na sua melhor crendice, como o 25 de Abril, E, em especial, aproveitando as festas para que uma Alta Autoridade do Estado pendure no cachaço do condecorado a medalha adequada ao feito merecedor do acto para que foi seleccionado e se pôs a jeito. Tudo no mais requintado estilo. Este ano toda a atenção caiu sobre os episódios, uns atrás dos outros: a política governativa; as eleições dos deputados; as troikas (europeia e portuguesa); a crise aterradora instalada; o episódio do patriota que, sem partido nem experiência exigível, declara que só se sente disponível para presidente da Assembleia da República o que afirma com uma lata pacóvia que só suscita dó.
Neste momento tão ardente de opções, contendo o melhor das ideologias que possa servir o cidadão, embora ignorando tudo a respeito do cargo e fazendo tábua rasa daqueles que passam fome e são vítimas do desemprego que, no seu bom entendimento, não passam de desordeiros mandraços ou inadaptados aos modernos conceitos do socialismo pátrio; é essa a leitura feita na sua interpretação. É tempo também de investigar e discutir onde se encontram as raízes mais responsáveis e fundas da crise que, por mais que se gastem galões de lixívia, a nódoa persiste nos livros de história e nas consciências sãs.
Sabe-se, porém, que o nosso país, desde o 25 de Abril, foi palco iluminante no seu arranque revolucionário que aterrorizou os "animais políticos", no caso Mário Soares, ele próprio reprimia em várias ocasiões face à explosão das multidões anónimas, ansiadas, brandindo bandeiras do escudo nacional, apenas glorificando os momentos da vitória da liberdade conseguida. Quadros jamais esquecidos por todos aqueles que presenciaram e participaram esses momentos gloriosos de alegria e irmandade abraçando as tropas revolucionárias, sentindo-se estas honradas pela sua participação nesse tão grande momento. Porém, Soares, por sua própria escrita mostra-se horrorizado com o crescente vulcão humano de pendor popular entupindo ruas, praças e janelas, apavorado, afirma que não foi para isso que, nem o povo, nem a tropa se prestava a uma patuleia à laia de uma Maria da Fonte. E vai daí, no último momento (palavras ditas e já neste espaço escritas) o grande profeta, mandando às urtigas o patriotismo, apunhalando a revolução, servindo-se da conivência do verme Carlucci (homem sinistro da CIA e magarefe de Allende e da democracia chilena) e da embaixada dos EUA e do próprio governo americano que Soares visitou expressamente, dando assim volta à revolução portuguesa com uma intervenção de traição estrangeira, instalando aquela plataforma que deu nascimento a todos os golpes sofridos, dando como resultado a sentença de morte que todos estamos observando e sofrendo, atirando as culpas entre si, e todos silenciando o verdadeiro autor da sentença de morte do Movimento do 25 de Abril. Num tribunal civil e honrado as sentenças teriam outra leitura: traição à pátria (intervenção estrangeira) = prisão perpétua.
Agora vêm os politólogos explicar que há diversos socialismos. Sendo assim, em um deles encaixar-se-á o chuchalismo, o tal que se encontra engavetado para toda a vida.

Bem podem os chuchalismos e outros epigramas fazer por esquecer, pois tudo é vergonhoso do ponto de vista do patriotismo e muitas outras coisas vergonhosas.

Esquecer é o mais prático.

Só o tempo atenua a chaga, ficando a cicatriz indisfarçável, resultado dos muitos socialismos para todos os gostos. Nesse caso teve presença o chuchalismo soarista (patente registada)

Portugal é pátria do fado

E neste sentido, sofre mas não mata, como na tourada "à portuguesa", em que Soares sai da lide e dá a volta ao redondel.

Epílogo

A crise que se discute tem o recorte de todas as crises económicas sofridas e faz parte do conjunto dos fenómenos que substanciam o fim dos impérios. No caso presente o império em causa chama-se "Império do Capitalismo", o mais abrangente de todos os impérios conhecidos, já que não tem fronteiras físicas, nem morais. Neste estado da evolução todas as troikas coincidem no mesmo pendor em que a Europa refina - o capitalismo sofrendo de Alzheimer, passando por crises mais que sabidas que fazem parte do sistema, e que - de crise em crise - chegará ao rompimento.
Tal convulsão agrava-se progressivamente. A prova é a actual que se desenha como a mais grave, longa e alargada e com a convulsão das massas alargada a toda a Europa, chegando a outros continentes.
A História não anda para trás. Entretanto passeia-se já na Lua.

Quem acredita que não haja remédio para acabar com a fome endémica?

Há aqui qualquer veneno mortífero que todos conhecem e que é a força do capitalismo. Está à vista.


Fernando Vieira de Sá
Lisboa, Maio de 2011

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