terça-feira, 1 de dezembro de 2009

MEMÓRIAS DE F. VIEIRA DE SÁ

OFERTA ESPECIAL
na compra dos 4 títulos da colecção «Percursos da Memória»
preço especial de 45,00 euros + oferta de portes
{em vez de 59,00 euros}

CARTAS NA MESA - RECORDANDO BENTO DE JESUS CARAÇA E A «BIBLIOTECA COSMOS»
Prefácio de Manuel Machado Sá Marques
ISBN 972-99081-0-9 176 pp. PVP (iva incluído): 10,00;
VIAGEM AO CORRER DA PENA
Apresentação de Urbano Tavares Rodrigues
ISBN 972-99081-1-7 408 pp. PVP (iva incluído): 18,00;
ECOS DO MÉXICO - DA HISTÓRIA E DA MEMÓRIA
Prefácio de Miguel Urbano Rodrigues
ISBN 972-99081-2-5 224 pp. PVP (iva incluído): 15,00;
AUTÓPSIA A UM DEPARTAMENTO CIENTÍFICO DO ESTADO - LIVRO BRANCO DO DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA DAS INDÚSTRIAS ALIMENTARES
Apresentação (in http://fvieiradesa.blogspot.com/) de Eugénio Rosa
ISBN 978-972-99081-3-2 312 pp. PVP (iva incluído): 16,00;


Os pedidos deverão ser dirigidos a f.vieiradesa@gmail.com.
Solicitamos e agradecemos a divulgação de uma iniciativa que visa levar a obra, bem como a extraordinária e riquíssima experiência de vida de Fernando Vieira de Sá, a cada vez mais leitores.
Podemos contar com a sua colaboração?
Obrigado.
Blogue «F. Vieira de Sá»

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

MURO DE BERLIM

Passam hoje vinte anos sobre a mais badalada das quedas de qualquer muro existente à face da Terra.
No meu livro O Reino da Estupidez nos Caminhos da Fome - Memória de tempos difíceis (Edições Cosmos, 1996), sob a epígrafe «O fim da guerra fria põe tudo em causa» [pp. 73 e ss.] pode ler-se:
«O Muro de Berlim ruiu e o seu entulho fez a prosperidade de uma nova indústria de amuletos e bentinhos, a reforçar o filão das relíquias milagreiras, os escapulários das terras do Evangelho em vias de extinção. A poderosa União Soviética desmoronou-se como um baralho de cartas. Abolidas a foice e o martelo, ficou em seu lugar o histrião desfraldando o pavilhão - matriz da águia bicéfala - da fulgente, autocrática e imperial grande Rússia, agora de regresso, metamorfoseada de democrática, ao convívio das nações livres (?), depois de sepultada a medonha tirania. [...] Afirma-se mesmo, com dionisíaca e insciente euforia, que o Socialismo perdera a razão de ser por já não haver lugar à luta de classes, só porque foi decidido não haver classes. E também não haver ideologias. [...]
O que jamais ninguém poderia antever [...] é que se saía da estável guerra fria por defunção da supina causa malfazeja, não para desfrutar a cerúlea paz celestial, abendiçoada por todas as virtudes remascadas em prândios de oratória, marconizada por anos e anos de azucrinante e impiedosa penetração pela casa do cidadão adentro [...] aquela a quem precisamente e especialmente se prometeu a felicidade eterna [...]»

Acabou a Guerra Fria mas o que menos desejavam, não só os Estados Unidos da América como a Europa, era a unificação da Alemanha, de uma Alemanha responsável por duas Guerras Mundiais, com milhões de mortos e destruições olímpicas de cidades e países. O que sempre esteve em causa foi precisamente o desmoronamento da URSS, do Poder Popular e, já agora, acabar com as classes sociais por eliminação da classe operária, herdeira da escravatura, e como tal perdendo direito a cidadania, tal como na Grécia Antiga onde nasceu a tal democracia. Só que na actualidade a democracia respeita a toda a humanidade, com direito a desfrutar e a partilhar das riquezas da Terra.
O acabar com as classes traduz-se, neste caso, em considerar exactamente a classe proletária de fora da doutrina capitalista dominante. É isso que se quer. Todos o sabem, mas não o dizem, apenas o silenciam.
Fernando Vieira de Sá

Lisboa, 9 de Novembro de 2009

sábado, 31 de outubro de 2009

TEMPOS PASSADOS QUE PARECEM DE HOJE - ATÉ HÁ POETA!

Entre os papéis do seu arquivo pessoal, Fernando Vieira de Sá encontrou e entregou-nos para publicação no blogue uns versos de José Régio, de 1959, que reflectem preocupações que atravessam os tempos e ainda hoje mantêm a sua actualidade. O título deste post é de FVS e, como é hábito, revela o seu extraordinário e rico sentido de humor.
Sátira ao prometido aumento de vencimentos em Janeiro de 1959

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento,
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos, - só! - por seu ofício,
Receber, a bem dele... e da nação.

Em 1969 no dia de uma reunião de antigos alunos, assino este soneto

José Régio

sábado, 17 de outubro de 2009

CONCEITOS ETERNOS QUE VALE A PENA RECORDAR

Aqui deixamos hoje, também 17 de Outubro, este recorte que Vieira de Sá nos entregou para publicação no seu blogue, acompanhado de uma pequena e elucidativa nota: «Este cai como "sopa no mel".» Reproduzimo-lo tal como nos chegou:

«NESTA FARSA HA TODAVIA UMA
MORALIDADE. VEJA-SE COMO O
MUNDO SE ACHA EM CARNE VIVA,
E QUÃO DÉBIL É A ATADURA
ENTRE UM GOVERNO ABSOLUTO
E O SEU POVO! UM FOGUETE
DADO A DESHORAS PODE TALVEZ
DECIDIR A SORTE DE PORTUGAL»
Almeida Garrett, «O Palinuro», Jornal do Exílio, Londres 17 de Outubro de 1830

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

ENCONTRO EM MANTELÃES COM UM GRANDE VULTO DA REPÚBLICA

«O estudo sobre "O Queijo Nacional de Tipo Holandês", em colaboração com Eugénio Tropa, mais tarde professor catedrático, levou-me um dia a Paredes de Coura onde, segundo vagas informações, foram feitas as primeiras tentativas para fabricar (ou imitar) o queijo holandês, que se importava em grandes quantidades da Holanda, chamando-lhe "queijo flamengo".
[...]
Por volta das duas da tarde estávamos batendo à porta do palacete de Mantelães onde Bernardino Machado vivia. Eu não queria acreditar que dentro de momentos iria ser apresentado a uma figura mítica que para mim se agigantava de tal modo que me parecia impossível enfrentá-la sem uma emoção incontida, descambando em frivolidade de gestos e palavras, caindo numa bajulação que só traria e levaria a uma situação que eu queria que transparecesse respeitosa e admirativa mas não aduladora.
[...]
E a propósito dos estudos que me ocupavam, a pouco e pouco embrenha-se na floresta da história de que ele próprio era obreiro de primeira fila. Não sei como o tempo se sumiu em toda aquela tarde onde me deu a sensação de estar lendo uma História de Portugal Contemporâneo, em que os protagonistas me aparecem em carne viva e os factos me dão a expressão de qualquer coisa humana em tempo real, pela alma que emanava da progenitura intelectual do estadista ali vitalizando o momento. Podia aqui reproduzir quase ipsis verbis essa interminável conversa em que Bernardino Machado, quase sempre de pé e passeando ao longo do salão onde estávamos, gesticulando e dirigindo-me a palavra fazendo-me entrar no assunto como sendo eu hodierno dos factos, querendo com isso provocar a crítica que ele não dispensava. [...] Uma conversa criativa e transmigrante no tempo. Por isso inesquecível.»

Ler mais em Fernando Vieira de Sá, Cartas na Mesa - Recordando Bento de Jesus Caraça e a «Biblioteca Cosmos», pp. 135-138.
As gravuras acima, do palacete e da antiga Fábrica de Lacticínios (1879) de Mantelães - Paredes de Coura, pertencem ao blogue «Bernardino Machado», criado e animado pelo nosso querido Amigo Dr. Manuel Sá-Marques, neto do «vulto da República» que aqui homenageamos na passagem dos 99 anos do 5 de Outubro de 1910.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

ADIVINHA

Quem é, quem é...
É português, do sexo masculino, doutor honoris causa em Literatura pela Universidade de Goa e afirma:
«Nunca me engano e raramente tenho dúvidas».

Aceitam-se respostas para a caixa de comentários deste blogue ou para f.vieiradesa@gmail.com


Fernando Vieira de Sá
23 de Setembro de 2009

AINDA SOBRE O SIGNO ANIVERSARIANTE - A PROPÓSITO DE UMA PRENDA VALIOSA

Neste encontro de família e amigos, minha neta Inês presenteou-me com um livro que, segundo ela, certamente me iria agradar sua leitura. Como sempre acertou. Trata-se de uma obra intitulada Evocação - A minha vida com Che, de Aleida March (Editorial Presença, 2009), sendo a autora casada com o dito Che, mãe de cinco filhos e companheira de seu marido em todos os momentos da revolução e tempos de vitória.

Trata-se de um texto impregnado de humanismo, dando alto exemplo das virtudes femininas, desde as maternais, bem marcadas, à companheira de seu marido em todos os envolvimentos da revolução e tempos de vitória, dando alto exemplo de amor, valentia e sentido de missão, exaltando o espírito que enobrece o feminismo com que a Natureza brinda as mulheres, tornando-as diáfana presença, usando-a. Não é só a Madre Teresa de Calcutá que, aliás, não consta ter tido filhos, no que todos acreditam. Aleida, contudo, foi heróica, tanto como mãe estremosa de seus filhos, como perante os riscos dos confrontos em nome da libertação de Cuba, antes «casa de passe» para serviço do «gringo» animalesco, mas endinheirado. Dificilmente se poderia conceber a possibilidade de Aleida acompanhar tão estreitamente o seu companheiro se este se comportasse como assassino, o que eu próprio discuto, denunciando neste blogue, em 18-I-2009, sob o título «Contra um Novo Hino à Ignorância»: chamando a atenção para esta grotesca difamação, que só se admite quando vinda de um almocreve vendendo peçonha. Mais grave foi a guarida dada pelo suplemento da Visão (3/4 de XII-2008) que oferece o seu espaço a um artigo de cujo conteúdo ressalta em destaque esta bacorada odienta apontada a Che e não só:

«CUSTA ACREDITAR
NA EVOLUÇÃO
DE UM REGIME QUE
TEM COMO ÍCONE
DE EXPORTAÇÃO
UM ASSASSINO:
"CHE" GUEVARA»
Convida-se e solicita-se esta leitura, pois só lendo na fonte se acredita ao que chega a boçalidade.

Fernando Vieira de Sá
Fotografias gentilmente cedidas pela Editorial Presença, a quem agradecemos.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

AGRADECIMENTO

Longe estava de ser alvo da vaga de felicitações vindas do espaço «Internet», saudando-me pelos meus 95 anos de existência, parecendo querer disputar façanha de paciência e teimosia, como se estivesse maldosamente a dificultar a vida à Caixa de Aposentações, procurando baralhar os cálculos e as percentagens aos responsáveis das contas da sustentabilidade de fundos face à rentabilidade que um montão de tropeços parece querer sabotar.

Segundo a afirmação de um probo sacerdote em homilia versada em missa de núpcias, onde os jovens abundavam acompanhando os nubentes e nós assistíamos por deferência com os pais do noivo, o dito sacerdote evocava aos crentes, e não tanto, acusando, erguendo os braços ao céu: «Essa velhada que por aí anda, que não faz nada e para a qual todos nós pagamos...». Palavras ditas de cima de um púlpito cristão. Abençoadas palavras entre os crentes... O silêncio calou. A intenção, ao que parece, teria sido a de querer ser simpático à jovem assistência presente na mira de arranjar freguesia. Já fora do templo cochichava-se o episódio. Valha a verdade, inédita descaidela.

Podia este crime longevidade (que faz o desespero dos «manga-de-alpaca» e o inconformismo do cura desbocado) passar oculto. Pela minha parte nada fiz de motu proprio para suscitar tal desaforo do clérigo, prejudicando os cálculos dos honestos (por enquanto) responsáveis devotados à nossa Segurança Social, bem como das nossas almas sob custódia do Divino Senhor, como se sabe...

Contrariamente, fiquei sensibilizado com tantas palavras de incentivo à vida vindas de amigos e amigas, por vezes de longe e de fora de Portugal ou pensando eu já ausentes em qualquer memória.

O responsável de tal publicidade e de implícito desacato a instituições à guarda dos impolutos funcionários - nunca é demais sublinhar - guardiões e condutores dos destinos da Pátria, o responsável, repito, foi o meu velho (antigo, quero dizer) amigo Luís Guerra que, dos meus graneis de prosa modesta, produziu como editor - Moinho de Papel - quatro títulos da mais perfeita e cuidada qualidade que a sua competência e amor à arte - e só - ao lapidar a rocha, encastoou a jóia, abrilhantando uma prosa de restritos aliciantes - vida de samaritano, palcos de subdesenvolvimento e fome, guerra, desconforto e luta contra o despotismo, temas que não apelam ao convite da leitura.
Pela minha parte, acho que cumpri o meu dever de cidadão do mundo, denunciando, informando sobre a vida onde ela se processa, longe dos asfaltos e das elites. Quanto aos outros, cada um age segundo os seus critérios e horizontes. Não é só rezar e pedir a Deus. Ao «arregaçar as mangas», os deuses também agradecem quando se serve a causa nobre e não se surripia bens alheios.
Resumindo:
1 - Para Luís Guerra, e aqui incluo a Lurdes, sua mulher, e seus filhos, vai todo o meu reconhecimento pela amizade que me dispensam e ajuda que me têm oferecido tornando-me o fardo mais leve, menos pesado.
2 - A todos os outros amigos e amigas, muito comovidamente agradeço a vossa disponibilidade em terem acedido a esta manifestação de afecto de todos vós, contribuindo com as vossas mensagens para fazer deste dia Um Dia, grande como as vossas palavras, Não pelos 95, mas pela alegria de me recrear sentimentos remotos de amigos e amigas, tão maravilhosos quanto já inesperados num mundo em que só a «cotação da Bolsa» tem a palavra útil. Há excepções. Nem tudo é liberalismo global.
Iniludivelmente, filho, nora, netos e netas e até dois bisnetos, fizeram presença, emprestando calor, amor e vivência ao momento. Só uma ausência senti. Contingências do ciclo da existência que só a mim diz respeito.
Com todo o meu coração,
Fernando Vieira de Sá

terça-feira, 25 de agosto de 2009

AINDA OS 95 ANOS DE VIEIRA DE SÁ - DEPOIMENTO DE JOSÉ VEIGA SIMÃO

Caro Doutor Vieira de Sá,

Meu Caro Amigo

O Vieira de Sá faz 95 anos, hoje dia 20 de Julho de 2009. Tenho imensa pena da inclemência de obrigações que nos comandam a vida, não ter permitido, nos últimos quinze anos, manter consigo os diálogos frontais e criativos em que a dureza saudável de opiniões diversas era alimento natural da adesão ao objectivo último: servir e prestigiar o nosso Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial e, através dele, o Estado português. A amizade com Vieira de Sá transcendia e sublimava convicções políticas. O Presidente do LNETI viu sempre nele o investigador culto, actualizado e competente, um obreiro exemplar de uma instituição ao serviço das empresas familiares e das pequenas e médias empresas, tão desprezadas pela maioria dos governos, para quem os negócios da intermediação são prioritários em relação aos negócios da criação. O resultado para o País é conhecido.

Apesar de tudo, a verdade é que muitas empresas inovadoras na área das indústrias agro-alimentares do norte ao sul do País, do continente às regiões autónomas, beneficiaram das iniciativas e actividades que a “equipa de Vieira de Sá” realizou ao longo de muitos anos, desde os tempos do Instituto Nacional de Investigação Industrial. O saber, o saber fazer e o fazer desses técnicos e investigadores foi absorvido por centenas de empresas e permanecerá como fermento da renovação necessária a uma equilibrada industrialização do País, que novas gerações, alguns, seus discípulos, haverão de protagonizar. Os 95 anos não afastam a esperança.

As leis imorais que abrem portas a negócios de património científico e tecnológico, conquistado pelo esforço de muitos e com apoio internacional, associadas a práticas de gestão duvidosa determinaram processos lentos de extinção, incoerentes como aconteceu ao LNETI, em nome de falsos reformismos, não serão suficientes para destruir “escolas de saber”, como a de Vieira de Sá.

Fernando Vieira de Sá permanece como símbolo de dedicação ao trabalho sério e honrado, de alguém que continua a sonhar com um futuro melhor para a “inteligência nacional”.

José Veiga Simão

18.8.09

segunda-feira, 20 de julho de 2009

FERNANDO VIEIRA DE SÁ - 95 ANOS

Há 95 anos, no dia 20 de Julho de 1914 (segunda-feira, como hoje), nascia em Alcântara, na cidade de Lisboa, Fernando Peixoto Vieira de Sá, filho de Mário Pedro de Alcântara Vieira de Sá (1888-1979) e de Maria Luiza Bandeira Peixoto (1891-1982). Para assinalar este importante acontecimento, damos hoje a palavra aos Amigos e a todos quantos, com ele, de alguma forma, contactaram e foram tocados por este extraordinário exemplo de vida. De uma vida que não é apenas longa e plena de realizações e experiências, mas, e sobretudo, de uma vida vivida sempre a olhar em frente e orientada por princípios que se consubstanciam e manifestam na verticalidade e na recusa visceral do medo, da subserviência, do pessimismo e do comodismo. Parabéns Vieira de Sá. Luís Guerra

***
FERNANDO:

Já somos ambos membros do “Clube dos Macróbios”!
Eu faço, em Novembro, 90 anos… Tu, hoje, fazes 95… Começamos a estar um pouco velhos… Mais dia, menos dia, começam a chamar-nos “velhotes”!…
Enquanto tal não acontece, porém, aqui vai um Grande Abraço de Parabéns, pelo dia de hoje, com o desejo que “contes muitos e bons”, como antigamente se dizia…
Pergunto, a mim próprio: Qual a razão que nos liga? Será apenas o facto de termos um bisavô comum?

Na realidade, se os primeiros anos da nossa infância decorreram num ambiente familiar, em breve, os nossos caminhos da vida afastaram-nos e, no decurso de mais de 40 anos, só vagamente, por um ou outro parente, por amigos comuns, tinha notícias suas e acompanhei a sua brilhante carreira… O seu diploma de Médico Veterinário; o seu primeiro abordar dos problemas relacionados com a produção e utilização do leite e dos seus derivados; a sua estadia em Inglaterra – em plena II Guerra Mundial – como bolseiro do Instituto de Alta Cultura; a sua pertença à FAO e as suas aventuras no Brasil, no México, na Tailândia e no Paquistão, em Angola e em Moçambique, etc., divulgando as vantagens do consumo do leite e dos seus derivados, entre populações subdesenvolvidas e exploradas, com fome, ignorância e superstição…
Escrevendo, denunciando e protestando corajosamente contra situações de miséria; criando e organizando unidades, economicamente viáveis, para a produção integral do leite e seus produtos… Que sei eu… Na sua luta contra a miséria talvez chegasse a ir vender, ou dar, leite até “casa do Diabo mais velho”…

Um pouco menos jovem, continua a escrever, agora, as suas memórias…

Em Abril de 2004, vi – via Internet – a notícia da inserção na colecção «Percursos da Memória», edição Moinho de Papel, de um novo livro de Fernando Vieira de Sá, recordando Bento de Jesus Caraça e a «Biblioteca Cosmos». Ora eu, dada a minha formação matemática, fui e sou admirador de Bento Caraça, de todos os seus trabalhos, particularmente, dos Conceitos Fundamentais da Matemática, salvo erro segundo volume da «Biblioteca Cosmos».
Imensamente interessado com a notícia, resolvi telefonar a Fernando Vieira de Sá e daí surgiu uma nova fase das nossas vidas e das nossas relações… É com prazer que recordamos familiares já desaparecidos; episódios da nossa infância; amigos, preocupações e interesses comuns…
Mas encontrei, sobretudo, para além do investigador sábio e realista, alguém muito delicado e muito sensível, respeitador do pensamento e das ideias dos outros, sem que isso impeça, no entanto, a assunção corajosa e recta das suas próprias ideias e ideais…
Fernando Vieira de Sá é um homem recto… Um homem que tem por hábito “falar claro e m… direito”…

Voltando ao princípio…

FERNANDO:

Aqui segue um Grande Abraço de Parabéns, pelo dia de hoje, com o desejo que “contes muitos e bons”, como antigamente se dizia…

RUY
[Ruy de Paiva e Pona]
***

Um abraço apertado! De parabéns pelo dia do aniversário, mas também de gratidão! O Vieira de Sá sabe bem o que lhe devemos, pelo muito que nos tem ensinado e por o termos como exemplo.
Embora o nosso convívio se tenha iniciado só há uns anos, para mim, nas minhas recordações, o Vieira de Sá é já uma vivência muito antiga. Não conheci pessoalmente a Maria Elvira, mas quando visito o Vieira de Sá, a sua presença é permanente!
São inesquecíveis os bons tempos passados com queridos e bons Amigos! Recordamos com saudade o “nosso” General Vasco Gonçalves e o encantador José Branco Rodrigues.

20 de Julho de 2009
Manuel Machado Sá Marques

***

PARABÉNS!

Imagino não ser nada fácil ter 95 anos!
Dizia algures no seu blogue, que, nas conversas com os amigos, já não se falava de futuro, mas apenas do passado das suas vidas. Mas, a meu ver, é de futuro que se trata, quando disponibiliza ao público as suas vivências, as suas ideias, contributo precioso aos que, no activo, buscam referências nos caminhos percorridos por outros.
Fico sempre emocionada quando penso no Dr. Vieira de Sá, com 95 anos, que continua, como homem empenhado que sempre foi, a sua luta por um mundo melhor, utilizando agora as armas do momento.
Dia 20 de Julho! Nesta data bonita, se eu pudesse, segurava bem a sua mão e, sentindo fresco da manhã no rosto, subiríamos a um ponto alto da Estrela, para assistir ao nascer do sol. Antes de descer, dir-lhe-ia acreditar, que os pequenos passos conseguidos, dos que lutam por causas nobres, só poderão conduzir à Paz!
O meu abraço muito amigo de parabéns e os meus votos de boa saúde.
Angelina Barbosa

***

Recordando o «Apeadeiro de Chobela» o encarregado do mesmo, na altura, dá o sinal de partida pelos 95 anos do colega Vieira de Sá para que continue a sua vida de produção, recordando que ele também encontrou um apeadeiro de recepção de leite, na cidade de Maputo, e conseguiu transformá-lo numa central leiteira.

Com um abraço do
Morgado [Fernando de Pinho Morgado]

***

Conheci o Dr. Vieira de Sá em 1986 quando fui estagiar para a Unidade de Indústrias Lácteas do DTIA, pouco depois de se ter reformado de Director desse Departamento. Durante os 20 anos que por lá fiquei, tive o privilégio de privar com ele, pois sempre manteve o interesse pela actividade do Departamento e particularmente pela Unidade que criou, alimentando a amizade que genuinamente sentia por todos os seus elementos. Recordo com alguma nostalgia as curiosas e divertidas histórias que sempre tinha para contar, sobre factos verídicos que presenciou ou viveu ao longo da sua invejável experiência de trabalho e aventura por quase todo o mundo. Marcou-me a forma digna, corajosa e directa como sempre o vi abordar publicamente assuntos, por vezes polémicos, sem receios de evidenciar tudo em que convictamente acreditava, independentemente das consequências. Saí há três anos daquele Departamento (ainda antes da "Autópsia"), porque infelizmente, já não se encontram Vieiras de Sá.

Desejo-lhe um muito feliz dia de Aniversário. Recordá-lo-ei sempre.

Um forte abraço

Luísa [Luísa Bivar Roseiro]

***

Caro F. V. de Sá (e Luís Guerra)

Para os dois, mas muito particularmente para o Primeiro, quero dizer que nunca conheci ninguém que tão livremente e com uma certa alegria de viver "fizesse do velho novo"; e do novo, o presente que o futuro nos poderá trazer. Mesmo que não traga!

Como hei-de provar o que acabo de dizer? É simples. Nunca ninguém me chamou, com a idade que julgo que tenho e tenho, um Jovem. O F.V. de Sá chamou-me. E eu acreditei. Por isso estou satisfeito por nos conhecermos.

Parabéns. E já que mudou de século, mude também de década.

Um Abraço para os dois

António Neves Berbém

***

Nesta data de festa quero enviar ao Dr. Vieira de Sá um excerto do prefácio das minhas provas de agregação, apresentadas em Julho de 2004. Surge aqui como uma das minhas maiores referências profissionais.
«Conheci o Dr. Fernando Vieira de Sá no meu primeiro dia de trabalho na belíssima sala da biblioteca do Departamento de Tecnologias das Indústrias Alimentares. De aspecto austero, o Dr. Vieira de Sá tinha por hábito fazer uma visita diária aos laboratórios do Departamento, envergando uma bata imaculada, conversando com os funcionários e imprimindo às actividades a motivação necessária a um ritmo eficaz. Aos mais novos distribuía generosamente a sua extensa experiência profissional e a riqueza do seu espírito. O Dr. Vieira de Sá é uma personalidade sem fronteiras que estendeu a sua actividade a vários continentes ao serviço da FAO e posteriormente do governo português. Tendo-se dedicado à tecnologia alimentar trabalhou na Ásia, América do Sul e nas províncias ultramarinas portuguesas em África. Durante muitos anos os seus trabalhos sobre tecnologia do leite e lacticínios publicados em revistas internacionais foram referência e os seus vários livros técnicos ainda hoje fazem Escola. Durante as diversas conversas que manteve comigo dei conta que a sua aparente austeridade facilmente dava lugar a uma saudável abertura, por onde se vislumbrava uma visão esclarecida rara nos investigadores que conheci na altura. O grupo de investigação em que me inseri foi criado devido à sua visão sobre as tendências da tecnologia, a sua compreensão do desenvolvimento das tecnologias biológicas e a necessidade de implementação dessas valências no nosso País. Desde a primeira hora, o Dr. Vieira de Sá foi um cúmplice, e sem dúvida um instigador, da minha aventura europeia na busca de evolução científica e conhecimento de realidades diferentes. O apoio que recebi então tinha em vista a obtenção de competência técnica como investimento para o futuro da instituição, garantindo desta forma que havia uma adaptação às novas realidades sociais e económicas. Possuir o grau de Mestre ou de Doutor era absolutamente irrelevante em comparação com a obra que esperava ver desenvolvida e realizada. Na década de oitenta o ambiente que se vivia nos Laboratórios do Estado era de confiança. Criaram-se condições para o aparecimento de grupos modernos contratando jovens motivados e disponíveis para a actividade científica.»
Desejo um dia muito feliz e muitos anos de um contínuo exemplo às novas gerações.
Um abraço do sempre amigo
José Carlos Roseiro
***

Muitos Parabéns!

Caro Vieira de Sá, conhecê-lo e ter a honra de conviver consigo (a maior parte das vezes por telefone) é maravilhoso!
Agradeço-lhe a sua juventude e, mais do que tudo, o partilhar comigo algumas das suas muitas histórias, sempre tão ricas e cheias de sabedoria.
O Vieira de Sá é um exemplo para todos nós com a sua Grande Vida e sobretudo para todos quantos passam a vida a lamentar-se de tudo, mas que nada fazem para mudar.
Prova do grande ser humano que é, continua independente e capaz de tudo fazer com grande autonomia. Os seus chás são os melhores!
É com carinho que recordo o dia em que lhe disse que ainda chegava aos 100 anos, ao que o Vieira de Sá me respondeu: «Não me deseje isso, é o pior que me podem desejar, pois já não tenho com quem partilhar as minhas lembranças». Nós - eu, o Luís e os nossos filhos, que gostam muito de si - não conhecemos as coisas tal como as viu mas estaremos sempre presentes para o ouvir falar delas e das suas vivências com muito carinho e amizade.
Mais uma vez Parabéns por tão bela data!
Um grande beijinho da amiga
Maria de Lurdes Guerra

***

Querido Fernando

Ao recordar, quando o sol nascia, que completas hoje 95 anos, abri a janela, contemplei os campos de Serpa na lonjura da planície alentejana, meditei durante alguns minutos sobre a tua longa e bela caminhada pela estrada da vida e pensei: o Fernando, sempre resmungão e julgando-se um pouco esquecido, tem um talento especial para demolir os contra-revolucionários e toda a escória humana que em Portugal se mascara de esquerda, mas ignora o que os amigos pensam dele.
Eu sou um deles .
Nos últimos anos raramente nos temos encontrado porque vivo longe de Lisboa. Mas estás presente em mim diariamente. Numa síntese do teu perfil direi que reforça a esperança verificar que neste tempo de crise global da civilização existem homens como tu.
Pelo teu eticismo, pela coerência e firmeza do teu combate desde a juventude pela revolução social, pela tenacidade com que colocaste o teu talento de cientista e escritor ao serviço das grandes causas – vejo em ti, Fernando, não apenas um humanista mas o paradigma do revolucionário exemplar. Até no amor foste grande, na relação de contornos quase mágicos que mantiveste com a Maria Elvira, tua companheira.
Uma solidariedade comum com os povos do Terceiro Mundo em luta pela independência autêntica abriu portas a intermináveis conversas sobre países que ambos conhecemos bem e que amamos, sobretudo o México, o Afeganistão e Cuba. Mais de uma vez, recordando as tuas lutas, sobem na minha memória personagens da grande geração de revolucionários russos de 17 porque há em ti traços do carácter dessa gente maravilhosa.
Falo com frequência da vida útil que difere da biológica. Também ai és uma inflorescência. Aos 95 anos continuas a pensar e escrever como um jovem.
Aguardando a festa do teu centenário, aqui vai o abraço de parabéns do teu amigo e camarada
Miguel Urbano
***
Caro Amigo
Venho neste dia 20 de Julho desejar-lhe um dia muito feliz.
É com muita alegria que lhe dou os meus parabéns e desejo que continue com saúde, com actividades diversas, nomeadamente com a escrita, que tanto agrada e enriquece o leitor. Refiro, nomeadamente, as Cartas na Mesa, que tanto prazer me deu, pela beleza da sua escrita e pelo interesse do seu conteúdo.
Penso neste dia 20, no convívio em Cascais, com os meus Pais, posteriormente no Algarve, em casa dos meus Tios. É sempre com grande prazer que me lembro das conversas vivas em que também participei um pouco e na amizade genuína que testemunhei.Lembro igualmente o apoio do Dr. Vieira de Sá em momentos difíceis, quando o meu Pai foi operado ou na doença do meu Tio José Branco Rodrigues.
Gosto sempre muito de contactar com o Dr.Vieira de Sá, pessoalmente ou via telefónica/ mail, de participar no seu convívio, de dar continuidade, conjuntamente com a minha Mãe (ou com os meus irmãos) à amizade que existia com o meu Pai, toda a alegria da amizade que a solidariedade e identidade de valores consolida.
Um grande abraço do
José Diogo (Gonçalves)

***
Apesar de não ter trabalhado directamente com o Dr. Vieira de Sá, conctatei com ele, via INETI e via Dra. Manuela Barbosa. Esteve presente em muitos dos almoços da nossa Unidade - a UIL - por ele fundada. Nutro um carinho muito grande pelo Dr. Vieira de Sá e admiro muito tudo o que fez, juntamente com a Dra. Manuela - a minha antiga chefe, e hoje amiga. Aqui vai o meu testemunho e deixo os meus votos de Parabéns:

95 primaveras,
uma data tão especial.
Requer uma comemoração,
única e sensacional.
Nesta surpresa, não poderia,
deixar de participar.
Desejo-he um dia muito feliz,
e que o continue a recordar.
Sou a Sandra Pinto, a ex-UILiana,
gostei muito de consigo contactar.
Guardo boas recordações,
de quando nos ía visitar.

Beijinhos de Parabéns da

Sandra Pinto da Silva


***
Grande e muito querido amigo
Fernando Vieira de Sá

MUITOS PARABÉNS!

Ao pensar em si, não podemos nunca deixar de evocar a Sra. D. Maria Elvira, a sua companheira, senhora de extraordinárias inteligência, doçura e sensibilidade cujo sorriso e olhar, brilhantes, nos permanecem na memória impregnada de saudade e ternura, por ela.

O casal Vieira de Sá, destacava-se no grupo dos grandes amigos de nossos pais, Aida e Vasco.
Uma profunda comunhão de ideias e empatia pessoais, uniu os dois casais numa dadivosa amizade e profícua cumplicidade. Os sentimentos que nutriam entre si, construíram, uma muito enriquecedora e exemplar ligação, plena de afectos, lealdade, integridade, que, estamos certos, lhes proporcionou uma profunda alegria nas suas vidas.

A conversa, cujo nível e profundidade de análise os arrebatava, horas sem fim. Os temas interessantíssimos, onde se evidenciava a notável riqueza e experiência de vida do casal Vieira de Sá, as fabulosas histórias narradas com o requintado humor que a sua extraordinária inteligência confere a Fernando Vieira de Sá, enfim, os acalorados e cúmplices debates sobre todo o tipo de assuntos, constituíram o sedimento dessa exemplar amizade.

Dos encontros, muito frequentes, recordo as visitas à “casa de Sesimbra”, de onde os nossos pais, vinham sempre maravilhados pelo convívio, pela beleza da obra de arquitectura e dos jardins, onde as plantas e as flores eram amorosamente escolhidas e cuidadas pela Sra. D. Maria Elvira.

Quando vinham a Cascais eram, também, formidáveis sessões e serões de conversa.

A profunda amizade e companheirismo entre Vasco e Fernando, levou-os a um convívio intenso, a partilharem férias, enfim, a conversarem todos os dias, nem que fosse só por telefone.

A Maria Elvira e o Vasco partiram.
A Aida e o Fernando perduram a amizade.
Alguns “ incómodos” da passagem dos anos, remeteram-nos às suas casas.
O Fernando mantém o convívio com lindos ramos de flores que, gentilmente, faz chegar a casa da Aida, nos dias comemorativos, acompanhados de cartões com comoventes dizeres que a levam a sorrir e a enchem de saudade.

Um grande bem-haja, Sr. Dr., pela amizade com que distinguiu nossos pais.
Continue a escrever, por favor, pois o seu saber acumulado é imenso e nós precisamos tanto de aprender, como precisamos imenso de si.

É uma felicidade e um privilégio conhecê-lo e dedicar-nos a sua amizade.

4 Grandes e Apertados Abraços Muito Amigos

Aida, Maria João, Vítor, Vasquinho
Gonçalves

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Muy querido amigo Fernando,

Ante todo disculpe que no le escriba de mano propia, pero llevo un mes en el hospital, consecuencia de una insuficiencia cardiaca crónica, pero, aunque lentamente, voy mejorando. Es precisamente en momentos como estos, cuando uno se complace en recordar, que surge con gran intensidad el recuerdo de los amigos más queridos y añorados, y usted, amigo Fernando, viene en cabeza junto con la dulce memoria de María Elvira... ¡Cuántos bellos momentos no hemos compartido, de sobremesa, junto con Victorio en nuestro México, a quién tanto he de agradecer, en particular por el haber permitido el tipo de amistad que nos une desde hace tantos años y a pesar de la distancia. ¡Cómo recuerdo la pasión que usted siempre puso en su trabajo, cómo con Victorio querían arreglar el mundo y cómo María Elvira con su ternura y su mano artística alegraba nuestro entorno con sus obras florales!!!
Y no sabe qué inmensa alegría me procura verlo tan activo, tan creativo vísperas de sus 95 años!!! Reciba mis más calurosas felicitaciones con motivo de tan importante aniversario, que espero lo pase rodeado de todos los suyos, y que a pesar de la distancia le llegue todo el cariño que esta familia le tiene y le tendrá siempre. Yo sé que para Magaly usted es una de las personas más importantes de su infancia y ella y Daniel siempre recuerdan con emoción los días que pasaron con usted y María Elvira en Portugal y el cariño con que los recibieron a ellos y a mis nietos.
¡MUY FELIZ CUMPLEAÑOS, MUY QUERIDO FERNANDO!

Su amiga de siempre,

Antía Culebra

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Muy querido y presente Fernando,
¡¡¡Es al amigo, al hombre de ejemplar integridad y al luchador por un mundo mejor que, desde estas tierras canadienses, saludamos y felicitamos con motivo de tan augusto aniversario con gran admiración, respeto y sobre todo con gran cariño y contando celebrar juntos sus 100!!!
¡Qué alegría poder celebrarle, aunque sea por este medio, sus 95 años! Un motivo más para reiterarle nuestro afecto y desearle mucha salud, bienestar y lindos proyectos. Hemos estado pensando mucho en usted con mamá, quien como sabe, está hospitalizada y como paso mucho tiempo con ella estos días, nos damos el lujo de compartir tranquilamente y la familia Vieira de Sá es sujeto de frecuente y grata conversación. Y con Daniel y los chicos rememoramos los inolvidables días pasados en Sesimbra, las deliciosas sardinas preparadas por Fernando, los paseos al pueblo y cómo todo mundo saludaba cordialmente a Fernando y a María Elvira, la visita todavía más memorable a la cooperativa agrícola y no se nos olvidará nunca la botella de Porto de 1945 que nos regalaron a nosotros estudiantes mochileros que cuidamos como un tesoro durante todo el viaje por Europa y luego de regreso a Canadá, donde la tomamos con mis padres a la salud de los Vieira. Hoy levantamos nuestra copa a la salud y felicidad de Fernando Vieira de Sá, hombre excepcional, a quien con gran orgullo y respeto llamamos AMIGO.
¡¡¡Muy felices 95!!!
Magaly, Daniel, Eric y Alionka

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O Fernando Vieira de Sá é um amigo modelar, daqueles amigos do coração que estão sempre connosco nos bons momentos e nos muito maus. Veterinário, nutricionista, antropólogo, foi alto funcionário da FAO em muitos países, onde prestou serviços inestimáveis.
Como bem sabem os seus amigos, foi um antifascista inquebrantável e um militante comunista de ampla e generosa visão do mundo e de absoluta lealdade para com o seu Partido.
Nesta hora de festa, quero saudar, com um fraternal abraço, o cientista, o escritor, que já nos deu uma valiosa obra de testemunho e reflexão, o camarada, companheiro de horas felizes e de horas amargas, sempre animado pela esperança de um futuro melhor para a Humanidade.
Querido Fernando, estreito-te ao peito, de punho erguido, sorrindo como tu sempre soubeste sorrir à ilusão, à adversidade e à vitória.
Urbano Tavares Rodrigues

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Ao Fernando Vieira de Sá
Nos meus tempos do MUD Juvenil e ainda antes de ter o prazer de com ele conviver, Fernando Vieira de Sá fazia parte da “constelação” dos colaboradores da Cosmos dirigida por Bento de Jesus Caraça. Esta editora/colecção constituiu para nós uma referência cultural ao serviço da luta em que estávamos envolvidos por uma sociedade livre e justa.
Anos depois viemos a ser “colegas” na FAO, embora em áreas distintas. Apraz-me recordar o prestígio profissional de que o Fernando Vieira de Sá gozava, aliado ao respeito que merecia como funcionário internacional ao serviço dos valores das Nações Unidas e da cooperação entre os povos.
Depois das ricas e humanas memórias que escreveu e que tivemos o prazer de ler, não vou aqui evocar os episódios de que foi actor e que revelam o sistema de valores sociais que sempre marcaram as suas atitudes e relação com os outros.
Tivemos, depois do 25 de Abril, várias oportunidades de colaborar e de nos encontrar entre amigos, em Portugal. Vêm-me à memória os bons momentos que partilhámos num pequeno restaurante do Cais do Sodré, conjuntamente com o Dr. Herculano Vilela, como “cobaias” de um novo queijo que o Fernando tinha produzido e queria “testar”…
Fomos mantendo contacto à volta de efemérides e batalhas políticas e cívicas ao longo de todos estes anos, partilhadas com grandes amigos já desaparecidos como António e Vasco Gonçalves, Monteiro Baptista, José Branco Rodrigues e com outros que continuam coerentemente a defender os ideais e objectivos de Abril.
Nos tempos que correm, neste mundo globalizado – que rima como mercantilizado – saudamos, a Maria Eduarda e eu, nesta data, e com amizade, a solidariedade humana e a frontalidade das posições do Fernando que nos encoraja a todos a não baixar os braços na busca de um mundo melhor.

Mário Ruivo
20 de Julho de 2009
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Amigo Vieira de Sá

Não podia deixar passar este dia em que completas 95 anos sem deixar o meu testemunho de amizade e admiração por mais um aniversário, numa vida de Homem que sonhou, realizou e teve uma vida exemplar, de cidadão, dirigente, colega de trabalho e amigo.
Desde o tempo em que me foste apresentado como “chefe” do Departamento de Tecnologia e Indústrias Alimentares, onde era estagiária, que desenvolvemos uma amizade que ainda hoje perdura. Foste, sem me ter dado conta na altura, uma pessoa que pelo exemplo moldou a minha forma de estar na vida. O rigor, o sentido crítico, a insatisfação constante, o tentar fazer sempre melhor, a transparência na conduta, o não se conformar com o estabelecido, a liderança sem subserviência e sua importância na realização de projectos, os objectivos com prioridade no colectivo, o entusiasmo.
A postura de Serviço Público que imprimias ao Departamento no apoio técnico dado às Indústrias Alimentares, como se pretende actualmente, era já feito nos finais dos anos 60 com formação a quadros das empresas, apoio analítico e consultadoria, transferência tecnológica e inovação.
Tenho presente a tua sempre pronta colaboração na leitura crítica de textos e da minha tese de Doutoramento.
As horas de conversa quando nos encontramos! Conseguimos estar horas a falar sobre diversos temas deliciando-me e aprendendo com a tua vasta cultura e com a boa disposição e o sentido de humor que te é peculiar, narras factos e episódios por ti vividos, aqui ou no estrangeiro, recentes ou de há muito tempo, afirmando a tua prodigiosa memória.
Por vezes, no quotidiano vamos espaçando os contactos, até porque distamos nas nossas residências de cerca de 500 Km, mas nem por isso a amizade sofre qualquer beliscadela e muitas vezes damos connosco a pensar se o melhor da vida não será o cultivar das verdadeiras amizades!
É um privilégio ter-te como amigo. No dia dos teus 95 anos, quero associar-me ao grupo de amigos que te envia um grande abraço de Parabéns.
Conceição Martins
Vila Real 20/07/09
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Ao caro Amigo Vieira de Sá
É sempre um gosto e uma grande honra conhecer alguém que comemora o seu 95º Aniversário. Mas quando esse alguém marcou a nossa vida profissional e é nosso amigo de longa data, a honra é redobrada.
Assim, ergo neste dia simbolicamente a minha taça pelo seu Aniversário, felicitando-o por mais um ano vivido e pela sua coragem e determinação em acompanhar os desenvolvimentos do século XXI...!
A sua reacção permanente aos sinais da «nossa modernidade», sinal de que está bem atento ao que se passa no mundo, e a sua curiosidade, tão característica do seu profundo saber, fá-lo chegar ao dia de hoje felizmente com boa disposição e sentido de humor.
Faço votos que o mesmo se repita com saúde e bem-estar nos anos vindouros.
Com um grande abraço de amizade, relembrando também neste dia, com saudade, a figura ímpar de Maria Elvira.
Manuela Barbosa
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Caro Fernando Vieira de Sá,
Pede-me o amigo Luís Guerra que escreva algumas palavras para alimentar o blogue neste seu 95º aniversário. Não poderia recusar esta oportunidade de assinalar tão memorável data, embora não seja tarefa que consiga fazer com facilidade, mais habituado que estou a arranjar os textos dos outros do que a escrever os meus próprios.
Decerto haverá outros muito mais habilitados a escrever sobre o amigo Fernando. O nosso convívio não vem de há muito tempo, nem tem sido muito assíduo. Muito do nosso conhecimento começou por ser indirecto: ao paginar os seus livros, mesmo antes de nos conhecermos, fui-me apercebendo, e tornando admirador, da frontalidade do seu carácter, da sua intransigência na defesa dos seus ideais. Nos escassos — mas ricos — encontros que tivémos, pude confirmar esses traços, mas também experimentar a sua simpatia, o seu sentido de humor, a sua agradável convivialidade. Em suma, rapidamente reconheci na sua pessoa aquilo que posso identificar como mais um rico exemplo de vida e de conduta cívica. É por isso que, sempre, e sobretudo nesta data simbólica, lhe quero deixar um forte abraço de reconhecimento e de felicitações. Os meus sinceros parabéns!

Joaquim António Silva
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Ao Homem, ao Amigo e ao Camarada Fernando Vieira de Sá, um abraço de grande admiração e respeito pelo ser humano que és e pelo exemplo de vida que nos tens dado.
Parabéns, Fernando, pelo teu aniversário!
Um beijo
Bárbara [Freitas]
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Para o meu amigo Fernando
Há quem diga que «os grandes amigos se fazem na juventude» como se a amizade não pudesse crescer entre diferentes gerações. Nunca concordei. Os Amigos são absolutamente intemporais. Sobretudo quando os ideais humanistas e as causas da cultura e da liberdade nos são comuns.

Foi o livro Cartas na Mesa (2004) que me revelou a escrita de Fernando Vieira de Sá e fez nascer a vontade de o conhecer pessoalmente. Era a minha vertente de investigadora a segredar-me que o Fernando personificava uma riqueza vivencial extremamente importante para a nossa contemporaneidade. E não me enganava.

O nosso encontro aconteceria no lançamento do livro Ecos do México (11 de Novembro de 2005) na Associação 25 de Abril, numa sala a transbordar de amigos e admiradores, e a visita a sua casa passados alguns dias.

Entrar naquela casa, ali à Lapa, foi um deslumbramento que ainda hoje se mantém. Nela proliferam os livros e as obras de arte a testemunharem as mais diversificadas andanças de uma vida. Tal como pontificam as memórias dos afectos que foi semeando pelos caminhos percorridos e, sobretudo, a «presença viva» da sua companheira da longa caminhada, a sra D. Elvira, há anos desaparecida e que muito gostaria de ter conhecido.

Conhecer-te, Fernando, foi das experiências mais ricas da minha vida. Ter-te como Amigo, um privilégio de que me sinto para sempre devedora.
Uma superior inteligência e lucidez microscópica fazem de ti um ser fascinante e um jovem cujos 95 anos apenas se reflectem nas articulações que o tempo corroeu e com as quais ironizas.
Por isso te visito sempre com o maior prazer e passo horas em amenas conversas, muitas vezes num regresso ao passado que me seduz. Porque junto a ti nunca damos pelo passar das horas.

És um ser humano de excepção. Admiro a tua coragem, a tua verticalidade, a tua combatividade e o teu carácter impoluto que nortearam uma vida caldeada pelos ideais republicanos, pela luta contra a ditadura e pelas utopias que Abril nos trouxe. E em que continuamos a acreditar.

Parabéns, querido Fernando!
Júlia Coutinho

domingo, 12 de julho de 2009

ANTÓNIO MARTINS MENDES - UM GRANDE VETERINÁRIO


A fatídica notícia da morte do Prof. Doutor António Martins Mendes era aguardada a todo o momento. Uns dias antes, sem o saber, fazia-lhe a última chamada telefónica para Elvas, aonde se acolheu com sua mulher, Gina, para beneficiar da proximidade de seu filho, médico nessa cidade. Ele respondeu da cama com sílabas apagadas, mas nutridas da consciência do momento que se aproximava, pedindo-me para desligar porque as suas forças já não suportavam o esforço de qualquer audição e muito menos a voz. Despedi-me sem haver resposta, E, no meu íntimo, logo entendi que tinha ouvido talvez as últimas sílabas da sua existência.
A notícia chegou no dia 1 de Julho. Estava preparado para perder um grande amigo, um grande vulto da veterinária portuguesa, em todos os aspectos que enriquecem a vida, a sociedade e a portugalidade que tanto recebeu do seu labor. Pena é que, como em tantos casos, o aproveitamento de tanto empenho é recebido com um encolher de ombros que logo se manifesta nas dificuldades de editar a sua obra num volume, facilitando o acesso à consulta e ao estudo, aproveitando-a em toda a sua pujança de conhecimento e autoridade.
Mas, o meu sentimento alarga-se à companheira de toda a sua vida, Gina, cuja saúde é de há muito tempo da maior precariedade, E que a partir de agora tem de juntar à sua extrema debilidade o sofrimento que representa a maior solidão de todas as solidões expectáveis - a perda de quem para ela representava a maior força que se opunha à sua decrepitude, bem expressa à vista de todos.
FICA A SAUDADE PARA TODO O SEMPRE
Findava o último combate de uma batalha que fora exemplo de modéstia, perseverança e saber, títulos com cujos itens se consolidam as civilizações.
Também, e sobretudo, fica uma obra de grande peso específico científico e historiográfico, fazendo parte do legado deixado pela colonização portuguesa nem sempre norteada pelas melhores causas, mas que neste caso muito se fica a dever a Martins Mendes, destacando especialmente o profundo levantamento realizado em «Origens dos Serviços Veterinários de Angola» e em «A História do Laboratório Central de Patologia Veterinária de Angola», registando variadíssimas fontes de informação, num tempo em que não existia ou não era comum a Internet e os arquivos não primavam pela facilidade de consulta, publicados em Veterinária Técnica e na Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias. Igual contributo doou a Moçambique, onde leccionou na Faculdade de Veterinária da Universidade Eduardo Mondelane, deixando um trabalho de pesquisa bibliográfica publicado sob o título «Criação dos Serviços Pecuários de Moçambique», publicado na Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias.
Do mesmo modo, e no campo da patologia microbiana, um longo trabalho se anota sobre «A Peripneumonia Contagiosa Exsudativa dos Bovinos em Portugal», in Veterinária Técnica. Anote-se ainda «Homenagem a: Louis Pasteur (1822-1895)», por ocasião do Centenário da morte do sábio, sendo este um precioso documento de pesquisa, exigindo uma profunda análise de consulta bibliográfica. Outros trabalhos se poderiam citar. Apenas se deram exemplos.
PARA QUE TUDO ISTO CONSTE E SIRVA A CULTURA
Em minha opinião a maior homenagem substantiva à memória de Martins Mendes que se lhe pode fazer seria editar os seus escritos em volume de larga lombada para facilidade de consulta, enriquecendo a cultura portuguesa, valorizando a sua presença colonial, nem sempre encomiástica.
Martins Mendes serviu o ensino veterinário superior na cátedra da Escola Superior de Medicina Veterinária (a Casa Mãe), regressando a ela após a descolonização, deixando para trás o seu frutífero trabalho.
Os encontros que conduziram à nossa amizade começaram em Nova Lisboa, onde passei algumas vezes em estadias de semanas em tarefas de trabalho. Também em Moçambique, onde permaneci, entre outras visitas, seis meses por conta da Cooperativa dos Criadores de Gado, com a finalidade de estudar e propor acções que levassem ao melhoramento do abastecimento de leite à cidade de Lourenço Marques e ao funcionamento da Cooperativa no sector do leite, desde a produção e abastecimento domiciliário de Lourenço Marques, passando pelo transporte e processamento. Mais tarde, e com a descolonização, os meus encontros com Martins Mendes eram rotina e aí aprofundámos o nosso convívio e conversas, o que nos levou até ao fim inevitável. Há sempre um dia.
Mas... nem tudo é trabalho. Um copo em boa cavaqueira entre amigos corta a rotina e conforta a alma.



[Lx. 20.05.97 / Meu Caro Vieira de Sá / Conforme te falei envio-te as minhas últimas publicações - 5 no total. Agora vou deixar a malta respirar... eu próprio preciso também de repouso! Especial atenção merece a última, acabada de sair na Vet. Técnica. / A reunião de sábado 17 foi ótima. Bom convívio e amena cavaqueira. Bom vinho! Comida ótima e a Vossa inultrapassável hospitalidade. / Foi bom. Obrigado. Meu e da Gina. Cumprimentos nossos a tua mulher. / Um abraço amigo / do Martins Mendes]
Com este cartão de Martins Mendes, escrito há 12 anos, recordo hoje um encontro de amigos em minha casa que me cobre de saudade de um tempo em que, apesar das idades já provectas, ainda nos podíamos dar ao luxo de pensar em futuros.
Hoje, a tarefa é transmitir experiência passada. O mundo não começa com cada um, como a juventude pensa.


Fernando Vieira de Sá
***

Associo-me a esta homenagem, recordando os nossos encontros nos lançamentos dos livros de Vieira de Sá e um telefonema que me fez felicitando-me por essa inicitiva editorial. Deixo aqui, também, três citações que colhi de dois dos textos a que se refere Fernando Vieira de Sá:
«Os que me conhecem, sabem que não sou especialista em questões de Ecologia. Situo-me entre os homens comuns que se preocupam com as consequências das desigualdades extremas existentes entre os países do chamado "terceiro mundo" e as grandes potências industrializadas, e com as tragédias que resultaram da simples extensão aos trópicos das técnicas agrícolas dos países avançados. Preocupo-me também, naturalmente, com os riscos tecnológicos - o risco do ozono, o risco nuclear, o risco biotecnológico.»
[«Nota Breve: A Propósito de uma Tradução», in Revista da Ordem dos Médicos Veterinários, Dezembro de 1996]
«O problema é que os habitantes de provavelmente nove décimos do continente africano - o tropical que mais nos interessa - passa fome. Fome de "comida" e não apenas de proteínas de origem animal... O mesmo talvez se poderá dizer de vastas regiões de outros Continentes com populações igualmente carenciadas! A Natureza não ajuda e o Homem - "os Homens" - com ela colaboram, matando, destruindo, inutilizando. Em vez de sementes plantam minas... Vejo as imagens da televisão e interrogo-me, de aqui a quantos anos os habitantes do Afeganistão ou do Paquistão e de outros países terminados em "ão" serão capazes de produzirem aquilo que comem ou terão dinheiro que pague apenas o transporte dos alimentos que outros mais felizardos deitam para os caixotes do lixo?»

[«Cartas ao Editor (...), in Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias (2002) Supl. 117: 1-16]
«Insisto que é erro crasso decretar que os problemas (científicos, económicos, humanos, etc.) são os mesmos "desde o Minho a Timor" ou da Holanda à Indonésia ou de Cuba à China... Globalização sim... "ma non troppo"! Querer contrariar, corrigir ou modificar a natureza, ignorando suas leis, pode ser o fim dos globalizadores...»

[Ibidem]
Recordarei sempre a sua extraordinária simpatia e modéstia, qualidades que só as grandes inteligências e os homens bons conseguem assumir, para nada necessitando de se pôr em bicos de pés.
Luís Guerra

domingo, 5 de julho de 2009

VASCO GONÇALVES - PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA

O texto de Vieira de Sá, evocando Vasco Gonçalves em mais uma passagem de aniversário da sua morte, deu origem a três comentários, dois enviados directamente para a caixa de comentários do referido texto e um que nos chegou via correio electrónico. Porque o exemplo de Vasco Gonçalves não pode cair no esquecimento, trazemos ao corpo do blogue os comentários de Júlia Coutinho, Miguel Urbano Rodrigues e Ruy de Paiva e Pona, a quem agradecemos esta participação.

Querido Fernando,

Fico sempre seduzida pela maneira afectuosa e simultâneamente pedagógica como evocas os amigos da tua vida.Vasco Gonçalves foi, para além do amigo que evocas, um homem excepcional a quem todos muito devemos. Foi a nossa utopia tornada realidade... ainda que por pouco tempo... porém, o suficiente para ficar na História como o Grande Amigo do Povo Português. Pena não ter seguidores.
Júlia Coutinho [19 de Junho de 2009]

PARABÉNS!
Escasseia-me o tempo para acompanhar o teu blogue, mas vi hoje a magnífica foto do General com a D. Aida, e alguns textos teus, todos no teu nível. Parabéns pelo bom trabalho que estás a realizar. Abraço fraterno
Miguel Urbano [19 de Junho de 2009]
Meu Caro Fernando:

Li, com todo o interesse, o in-memoria que escreveste comemorando o 4º aniversário da morte do General Vasco Gonçalves. Nele encontro, uma vez mais, toda a tua delicadeza e sensibilidade em relação àqueles que merecem, ou mereceram, o teu respeito e a tua amizade.
O General Vasco Gonçalves foi um militar culto, inteligente e com “larga visão progressista” como dizes, preocupado com os problemas sociais e com a sua solução. Penso, porém, que Vasco Gonçalves foi, sobretudo, um homem sincero e honesto, um homem de bem, um homem bom...
Com o 25 de Abril, julgou chegado o momento de dar execução aos seus sonhos. Porém, com a ingenuidade de todos os grandes reformadores, habituado a comandar tropas que lhe obedeciam, esqueceu toda a resistência e inércia da sociedade cujas regras de vivência pretendia modificar, em beneficio dos mais fracos.
Não me parece que a resistência a que me refiro seja apenas a das classes dominantes. Também essa inércia e resistência se verifica, em grande escala, na classe dos dominados, daqueles que iriam beneficiar com as reformas do sistema económico.
Diz o povo que:

“Quando a esmola é grande, o pobre desconfia...”

É nessa desconfiança, na sua experiência de milénios, que reside toda a sua resistência à mudança e aos reformadores...
No teu texto, dizes que foram quatro os governos provisórios presididos por Vasco Gonçalves; é verdade, mas não esqueças que todos eles se estenderam, cumulativamente, ao longo de um ano... Um relâmpago fulgurante, momentâneo, face às centenas de anos requeridos...
Tu, homem de cultura, certamente leste o Êxodo, o segundo livro do Pentateuco dos judeus, no qual se descreve a acção de um grande reformador da sociedade do tempo... Verdade ou mito, descreve-se neste livro a luta de Moisés para libertar os judeus, escravos, oprimidos e explorados pela classe dominante do Egipto.
Pois bem, se foi relativamente fácil vencer a classe dominante; foram os escravos, os explorados, que se revoltaram protestaram, quiseram mesmo assassinar Moisés, o seu libertador... Foram, necessários quarenta anos[1] para levar este povo rebelde de escravos para a terra prometida, a terra onde corria leite e mel...
A primeira geração não chegou lá...
O Prof. Abel Salazar, num dos seus livros[2], diz que, citando de cor,

«Sob o ponto de vista económico, social, intelectual e emotivo, o mundo actual tende a sair fora dos limites do seu Sistema Histórico, mas reage contra esta tendência porque outro Sistema Histórico significa outra civilização. Ora este Presente é já Passado e simultâneamente é já Futuro pois que o período de declínio de um Sistema, o seu período de decadência é, ao mesmo tempo, o prelúdio de um novo Sistema. Por esta razão, a decomposição, a desagregação actual está grávida de futuro e contém nas suas entranhas um mundo novo, uma nova civilização mas num reflexo instintivo de vida e de conservação, reage e tenta conservar o seu próprio Sistema.»

A passagem, de um Sistema para o outro Sistema, exige tempo...
Vou terminar estas tão longas divagações. Com elas quis encontrar uma explicação para o facto, que referes, do nome do General Vasco Gonçalves nunca ter sido referido na última comemoração do 25 de Abril nem ter sido lembrado no quarto aniversário do seu falecimento.
Lembraste-te tu!
Lembraste com saudade e respeito pelos valor material e mental pela humildade que demonstrou ao aceitar desconsiderações à sua pessoa perante a consideração de valores mais elevados. Mas, sobretudo, lembraste Vasco Gonçalves como um grande amigo e, isso, releva tudo o mais...

Um abraço do

Ruy [30 de Junho de 2009]
[1] Nesses tempos longínquos os anos eram, possivelmente, muito maiores que no nosso tempo!
[2] Abel Salazar – A Crise da Europa, Lisboa, Edições Cosmos, 1942.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

EM MEMÓRIA DE VASCO GONÇALVES, FALECIDO A 11 E SEPULTADO A 13 DE JUNHO DE 2005

(Foto de Fernando Vieira de Sá)
Dias que carregam consigo uma comoção que os anos não dissipam, Pelo contrário, à medida que o tempo passa a vida ensina dia-a-dia à sedimentação memoriável desses tempos ainda quase presentes na vida que nos envolve, leva-nos a sentir em cada um de nós, e a muitos milhares de portugueses, a perda de um dos maiores estadistas de larga visão progressista, de racionalidade histórica e sociológica que não hesitou, ao longo de quatro governos provisórios (II a V) a que presidiu (17 de Julho de 1974 a 8 de Agosto de 1975), levar a sério as nacionalizações da Banca de Valores e outras com etiqueta de urgência, pois é de todos sabido, velho e revelho, que todas as crises de base em valores bolsistas - as searas do capitalismo - geram no sistema afim onde se acantona toda a magia das ciências financeiras e ocultas, criando todas as manigâncias técnicas de acumulação oculta da riqueza, embora algumas possam ser ilegais, o que é convidativo, sendo o acto auto-supervisado, o mesmo é dizer, confiante no estratagema legalista implícito, podendo os seus ideólogos passearem-se pelas ruas, cumprimentados cavalheirescamente, ninguém apodando-os daquilo que são - salteadores de cofres em proveito próprio.
Neste painel de vivências que nos entraram portas adentro por todos os canais da TV quis Vasco Gonçalves, em tempo útil, evitar o panorama costumeiro apetecido, fazendo as nacionalizações da Banca, e não só. Aparentemente era o que os milhares e milhares de cidadãos pediam na rua com angústia: DIREITOS, não especificamente uma nacionalização fosse do que fosse, mas um acautelamento que pudesse pôr em segurança valores contra a pilhagem e fugas de capitais para o estrangeiro, tudo para evitar o que acabou por acontecer em catadupa com o golpe de mestre contra-revolucionário, perpetrado pelo ícone do socialismo lusitano (e outros), por ele próprio assumido com orgulho, tendo por consultor e homem-de-mão da CIA, já afeito ao desideratum, pois, por sua decisão, assassinou Salvador Allende, bombardeando o palácio presidencial do Chile, tendo o presidente sido eleito por eleições livres, o que não joga com qualquer defesa da democracia ameaçada, mas sim interesses espúrios, como aqui em Portugal. O agente em questão era Carlucci, ex-embaixador do EUA. Aqui em Portugal, a justificação do golpe foi a preocupação tida pelo ícone-astrólogo que profetizava que a revolução estava evoluindo para uma ditadura proletária e era urgentíssimo atalhar o mal pela raiz. A propósito: Berlusconi há dias também declarava que não admitiria no parlamento italiano deputados («gente», como se exprimiu) mal vestidos e a cheirar mal. Foi notícia na TV com gargalhada em todo o planeta - há sempre mais um!
Tudo aconteceu com a queda do governo de Vasco Gonçalves, iniciando-se assim outro ciclo, agora gizado para o saque que Vasco Gonçalves se empenhava em evitar. O resto, todos sabem o que sofreram na pele e continuam a sofrer. As nacionalizações de Vasco Gonçalves foram anuladas e substituídas por outras nacionalizações, estas pagas pelo cidadão para repor as quantias surripiadas dos cofres bancários que ficaram às moscas, E isto para evitar as falências, levando o país para o desastre inconfesso e ainda imaculado.
Paga o justo pelo pecador
Perante isto, o ícone-adivinho deve ter ficado orgulhoso pelo seu palpite, evitar a ditadura dos maltrapilhos e malcheirosos. Opções. Pergunta-se agora ao Bandarra moderno o que chama a isto que se está presenciando. Ilusionismo? Falperra? Democracia? Ciência? Drama?
Em tudo isto, só me admira a lata estanhada do ícone das ciências ocultas em aparecer à luz do dia; isto, se acaso ele próprio não estiver orgulhoso, É uma pergunta que fica no ar... há outras.
Não era, portanto, a nacionalização da Banca que também preocupa os berlusconistas, visto que agora é o governo, ele próprio, que nacionaliza a torto e a direito (chama ao Estado) e paga a conta dos roubos, a «dolorosa», só no esforço em pôr tampões (pensos higiénicos) contra a hemorragia de dinheiro, financiando, i. e., nacionalizando. Deduz-se assim que há nacionalizações e nacionalizações. Umas, para proteger da rapina as finanças pública, privada e aforros, para estancar na medida do possível os excessos da burla dos falcões em proveito próprio. Estas são as patrióticas. Outras, para repor o rapinanço inominável, instalado pela liberdade banqueira e democrática «quanto-basta». Tudo isto à conta do palpite do profeta e cartomante diplomado. O adivinho do palpite pode abrir banca na Feira da Ladra. Não era, portanto, a nacionalização em si que horrorizava os clássicos, Era, sim, de essas quantias irem servir o Povo e a Nação, o futuro de todos nós, E não os carteiristas de colarinho branco da nossa praça que se abotoaram com o que puderam, com a benção dos ícones assumidos e as escrupolosas sentinelas (Banco de Portugal) com a ajuda dos seus cruzados, derramando o dinheiro dos outros.
Ninguém foi preso
Com este fim, que é do conhecimento de todo o cidadão atónito, a figura de Vasco Gonçalves avoluma-se agigantadamente, Por isso foi incinerado seu nome, sua figura, seu tempo, ao ponto de, aquando da última celebração do 25 de Abril, haver programas televisivos em que o nome de Vasco Gonçalves nunca foi proferido... uma forma de fuzilamento da figura.
A sua virtuosidade sem mácula, tanto quanto a valores materiais como morais, tendo tido a humildade de por todos os meios de que podia dispor para manter a unidade dos militares de Abril, até ao ponto de, por vezes, passar por cima de algumas desconsiderações à sua pessoa, dizendo-me (em privado, modestamente), quando eu comentava o facto, que «Portugal e o espírito da Revolução estão acima da minha pessoa». Eu até podia citar nomes, e bem sonantes, mas se o fizesse não satisfazia a sua memória, mas tenho pena, até alguns declaradamente arrependidos com a mesma lata estanhada como se nada fosse... Caras de pau! Estou a vê-los.
Nestas palavras soltas sinto-me como se estivesse num serão em sua ou minha casa cavaqueando até às tantas, comentando com sincera vontade de tudo poder ser conseguido dentro dos parâmetros legais e justos. Portugal merecia. Para falperra, chega.
Anda cá abaixo ó Marquês... Socorro
O desaparecimento físico de Vasco Gonçalves foi sentido em todo o Portugal por todos aqueles que sonhavam numa Era de irmandade, de solidariedade, progresso. Lembrai o 1º de Maio do ano da Revolução. Quem nesse dia participou nunca mais se esquecerá e nunca mais irá assistir a um momento igual, que desfaz totalmente a ideia reaccionária de pensar que o povo não sabe de que lado está a honra, a verdade, o futuro da Nação. Isso sentiu-se, espelhou-se nos milhares de cidadãos que o acompanharam até à campa, na certeza que ficará na História e na memória de todos aqueles que acreditaram na sua imaculidade política e cívica.
Assim, o seu desaparecimento tem duas vertentes. Uma, física - a morte biológica; outra, a presença mental, sentimental, gratidão, que perdurará na História quando esta for escrita à distância dos factos.
Daqui cumprimento a minha querida Amiga Sra. D. Aida com o muito carinho que por ela sinto, bem como em relação a seus filhos Maria João e Vítor, que sempre os integrei na mesma amizade e respeito. Tudo forjado em sentimentos que perduram enquanto por cá andarmos.
Fernando Vieira de Sá
Lisboa, 11 de Junho de 2009

sábado, 23 de maio de 2009

PARA A HISTÓRIA DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Como complemento ao texto anterior, e por considerarmos ser um importante documento para a história da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias, publicamos hoje parte de uma longa carta (23 pp.) de Fernando Vieira de Sá dirigida, em 1997, aos seus colegas da SPCV.
Prezados Colegas da SPCV
Lisboa, 03 de Dezembro de 1997
Acuso a recepção da v. prezada carta-circular de 9 de Setembro que muito agradeço e à qual excepcionalmente vou responder.
Não é por qualquer espécie de sentimento de menosprezo pelos meus Colegas, nomeadamente os Corpos Gerentes da Sociedade, ou de indiferença pelo seu próprio destino, que desde há muitos anos me tenho vertido ao silêncio e à abstenção relativamente a toda a correspondência que me é dirigida veiculando informações e convocatórias de índole associativa o que, no íntimo, me sensibiliza sem contudo me atrever a dar azo a qualquer tipo de participação. Tal oportunidade é já para mim inviável.
Desta vez, porém, sinto que a presente carta-circular de 9 de Set. transuda grande e emotiva sensação de desânimo, seguida de apelo quase expressando uma despedida in articulo mortis, não sem antes antever a hipótese de uma milagrosa oblativa que - passo a citar - "permita melhorar o nível de adesão à SPCV", [cientes de que] "isso só será possível através de realizações que beneficiem os Colegas a ela associados".
Procura-se assim - continuo a citar - "a elaboração de um programa de actividades que melhor represente as preocupações e interesses dos Associados".
Perante tal depoimento, de cuja justeza de diagnóstico não duvido, mas não tanto das prescrições debelatórias do mal, hesitei muito (daí o atraso desta resposta) em, ao fim de tantos anos de afastamento, decidir-me tomar o tempo dos Colegas, no lúcido entendimento de que as opiniões de um octogenário bem medido, nada ou muito pouco poderem interessar a uma Direcção (ou seus representados) portadora de outras referências, alheia a tudo e a todos, que não sejam fac-símile da sua própria geração em processo de se converter no modelo cultural do homem do 3ºmilénio, cujo desabrochamento já se encontra em plena fase de mutação.
Ora, eu sou um espécimen genuíno do século XX, aquele século que, segundo o autor do livro A Era dos Extremos foi o mais curto de toda a vida da humanidade, já que começou em 1914 (tal como eu) com o eclodir da 1ª Grande Guerra Mundial e veio a terminar em 1991 com a queda do Muro de Berlim, dois marcos que alteraram irreversivelmente a vida e o equilíbrio do Mundo e dos povos, fazendo com que nada voltasse a ser o que era antes. Assim sendo, 77 anos da minha existência foram consumados e consumidos entre essas balizas cruciais - verdadeiro período em que se exibiram as mais eloquentes e dramáticas contradições de uma Era em extinção - o que leva a sentir-me já fora do meu habitat e, como tal, feito intruso no meio dos obreiros de uma sociedade empenhada na construção do Homem Novo, na esperança, talvez, de atingir a almejada robotização global de todos os comportamentos, dispensando os valores e os conceitos que moldaram o carácter da minha geração, que nada tem que ver com a perspectiva sumamente individualista, mecanista e consumista dos Novos Tempos, padrões estes que nunca me guiaram. Com esta diatribe não estou, nem a pôr Virtude na minha geração, nem Defeito na geração seguinte, mas apenas dizendo que são Coisas diferentes, que passaram a não poder ser equacionáveis dentro dos mesmos cânones valorativos das respectivas filosofias de vida e da sociedade. Hoje, vive-se a crise da transição. Dramática, porque já não se ajusta ao passado próximo, nem se comporta como uma consciência esclarecida frente à interrogação do futuro.
Face a todas estas adversas circunstâncias mandaria o bom-senso incitar-me a prosseguir o meu prudente e bem avisado silenciamento aos ecos vindos da Direcção da SPCV neste momento tão difícil da sua história. Contudo, ainda afeito aos sentimentos de solidariedade e associativismo que sempre cultivei, e ao meu amor e respeito que sempre devotei à Nossa Sociedade, levam-me a correr o risco de vos dirigir algumas palavras, honestamente sem a menor convicção do seu interesse prático... e até teórico, mas apenas para fazer sentir que os vossos esforços e empenhamento, na busca de soluções, são seguidos e agradecidos por muitos colegas que, tal como eu, depositam a maior confiança e esperanças nos guardiões das Ciências Veterinárias consubstanciadas nessa vetusta e centenária Casa de tão prestigiosa história agremiativa e interventiva. As minhas sugestões, portanto, só servirão para mostrar que nos obrigámos a pensar com a melhor das boas vontades, isto sem qualquer outra pretensão de conveniência ou auto-convencimento.
Desde ainda estudante olhei para a Sociedade com venerando respeito perfilando-se no meu imaginário como a Ara onde se sagrava a valorosidade das Ciências Veterinárias de criação portuguesa e custodiava todo o seu conteúdo intelectual e científico, constituindo-se em património de indelével importância no quadro da cultura e do progresso nacionais, e conquistado prestígio entre as suas congéneres das várias outras áreas científicas nacionais e estrangeiras. A SPCV legitima o direito ao respeito reclamado por uma classe profissional ainda mal avaliada pelos consensos das diversas elites intelectuais portuguesas. O seu desaparecimento ou extinção corresponderia a uma traição aos nossos antecessores, às nossas glórias, aos nossos Mestres, aos nossos vindouros. Ninguém merece tal desfecho. Nem nós próprios.
A classe veterinária sempre se mostrou com fraca apetência para o actus rerum, o que lhe tem trazido bastos prejuízos. Está, de um modo geral, longe do Terreiro do Paço e é pouco atraída para o Humanismo e para as Ciências Sociais na sua melhor asserção, o que não tem nada a ver com a política de cordel. Estas duas circunstâncias, a meu ver, têm-lhe sonegado oportunidades de ensaiar o visionamento grande-angular dos magnos problemas económicos, sociais e, genericamente, do desenvolvimento que toda a humanidade enfrenta e Portugal sente na pele como sarna canina.
O passado da SPMV/SPCV que vem desde o raiar do século, apresentava-se-me como um alfobre de glórias a que se juntaram momentos da maior relevância científica e nacional, e que na nossa Sociedade foram motivo de históricos debates que se repercutiram em positiva intervenção e prestigiante imagem junto dos Poderes Públicos.
A Sociedade tinha voz em muitas decisões do Governo no âmbito da sanidade, produção animal e ensino veterinário. Foi por assim dizer um órgão consultivo quase obrigatório do Governo. Tenho ainda na memória o nome desses ilustres Colegas e o enunciado dos problemas que os preocupavam que, sendo de índole veterinária, alargavam-se sempre aos campos da economia e das políticas de desenvolvimento a preconizar. Conheci tudo isso muito antes de me licenciar, já que tive a bem-aventurança de meu Pai ser agrónomo, formado pelo ex-Instituto de Agronomia e Veterinária e de muitos desses nomes ilustres, pessoas e assuntos fazerem presença na Casa Paterna.
No entanto, o que eu desconhecia quando assim pensava com a ingenuidade própria da juventude, era que no momento da minha licenciatura (1938) a SPMV vivia (ou vegetava?) uma dolorosa crise de enjeitamento, quase rejeição ou displicência. E, mais do que por qualquer outra razão circunstancial - que não vou descartar -, ter sido o seu encurralamento desamoroso num sótão escuro e poeirento da velha Escola em obras ocupando um tapume feito de portas velhas que o director da Escola condescendeu que aí se instalasse a enjeitada Sociedade, a Causa, como que a estocada misericordiosa do diestro, que levaria às portas da morte aeternum vale, essa relíquia. Quanto à actividade, essa roçava as raias do mais profundo dos comas, reduzindo-se praticamente à cobrança das quotas, que só se mantinha por abnegada e beática teimosia de um velho e modesto Cobrador (o Moreira) que foi o verdadeiro anjo da guarda, impoluto guardião dos valores patrimoniais da Sociedade, incluindo o dinheiro colectado (dos que pagavam, já que os barões se sentiam desobrigados dessas mesquinhezas) que os membros da Direcção recusavam aceitar das suas mãos e que por isso o modesto funcionário guardava debaixo do colchão como cão de fila. A este heróico funcionário talvez se tivesse ficado a dever a sobrevivência da Sociedade até que a superação da crise fosse conseguida... não por causa desses "gestores", mas apesar deles.
Com efeito, por inimaginável que possa parecer, o presidente da direcção da SPCV de então era, simultaneamente, o director da Escola Superior de Medicina Veterinária. Um professor. É difícil admitir, mas aconteceu. Com esta denúncia só peço que "não se tome a nuvem por Juno". Só aconteceu. Há sempre um "Acontece", como a nódoa que cai no melhor pano.
Por essa época formava-se uma geração de veterinários disposta a desencalhar esse velho símbolo que a Sociedade ilustrava - qual cruzador Adamastor, mito representativo do Ultimato de 1890 que ofendeu e humilhou Portugal. Heroína, também, desse sentimento patriótico rendido à erudição, houve que chamá-la de novo à procela das Ciências da Veterinária, o que foi feito numa operação surpresa, a que se poderia dar o nome de "força de intervenção" embora pacífica mas denunciadora da situação, ilustrada com a fotografia das vergonhosas instalações, legendando-se "A FOTO DA VERGONHA", a qual foi tomada com cumplicidades várias e absoluto segredo. Com ela sai um MANIFESTO exortando à ajuda moral e material de todos os veterinários de norte a sul, ilhas e ultramar para que rapidamente a Sociedade possa recuperar a dignidade perdida. Foi a pedra no charco. O brio e o orgulho da classe despertados. Um grande movimento nasceu. Uma subscrição entre colegas rendeu o suficiente para a Sociedade se instalar no Largo do Chiado em confortáveis dependências da Associação Central da Agricultura Portuguesa, mediante a respectiva renda, e pudesse adquirir todo o mobiliário condizente. Esta resposta não tinha nada que ver, e até se contradizia, com as votações do "Sim" ou "Não" nas AG (a que nunca assisti por discordância absoluta do referendo) quando se pôs o dilema "Sociedade versus Ordem/Sindicato" com o resultado favorável à segunda. É que uma coisa era a Classe - todos os veterinários - outra coisa eram as AG mais sensíveis, sobretudo à Ordem, vendo nela apenas uma conquista social, como então era vista a sua falta considerada discriminatória em relação à existente Ordem dos Médicos. Por isso a exigiam. As AG eram na realidade a expressão de uma minoria. E a prova foi eloquente sem lugar a dúvidas e especulações. Ninguém ia dar dinheiro por uma coisa que votava à extinção.
Houve quem não gostasse e se sentisse enxovalhado por fedelhos desrespeitosos e mal comportados e acusados de violadores da porta do "reduto". Mas, não foi só por isso. Iniciou-se a campanha da actualização de quotas atrasadas - em muitos casos vários anos - (e não eram os mais anónimos que o faziam) e a entrega imediata dos livros da biblioteca, em grande parte retirados sem requisição, mas que o velho funcionário registava discretamente na sua escrita. Assombrosa dedicação...
Por estas e por outras, que não vêm ao caso, este período foi alvo de um certo branqueamento de dupla finalidade: minimizar a importância dos factos; reduzir ao anonimato os tais fedelhos, que os próprios promoviam para retirar aos factos qualquer carácter de imaturidade. Por isso, esses mesmos fedelhos trouxeram para a sua "Causa" um Professor, figura de proa e respeitado que aceitou a sua candidatura a Presidente da Sociedade. Os fedelhos não lutavam por penachos.
De 1943 a 1945 as receitas subiram 40% o que se ficou devendo, não só a uma significativa entrada de sócios, como à cobrança de quotas em considerável atraso, como se houvesse duas categorias de sócios, ambos com os mesmos direitos: os sócios que são sócios e os sócios que não são sócios. Estes últimos, os dignitários; os outros, a patuleia. Desrespeitosamente foram caçados privilégios que, sem terem jamais sido conferidos por alguém, foram assumidos por muitos, ou por hábitos de inveterado desleixo, ou por deliberada intenção por se considerarem com direito a pôr e dispor da Sociedade, recebendo tudo sem dar nada.
Estava instalada a confiança e crescia o entusiasmo e a esperança.
Aprofundaram-se os contactos com a Guiné, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Macau, Timor e Ilhas. Em todos estes territórios encontrou-se um delegado ad hoc para representar e dinamizar na região as actividades da Sociedade, captando novos membros, recolectando as quotas e angariando colaborações para a Revista, dando informações de foro veterinário. Abre-se uma delegação no Porto onde existia um importante núcleo de colegas com grande iniciativa, trabalho científico, experiência e espírito colectivo. Revigoram-se as relações com outros países, sobretudo Brasil e outras Sociedades. Expande-se a permuta da Revista com outras congéneres estrangeiras, incluso a China, Japão, etc. Comemora-se (em 1952) com grande comparência de colegas o cinquentenário da Sociedade com um rico programa de actividades - visitas de interesse profissional, conferências, convívios, banquetes, etc. - tendo-se publicado um número especial da Revista (nº 342-343) [Revista de Medicina Veterinária - Órgão da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias, Vol. XLVII, Julho-Dezembro de 1952. Passou a Revista de Ciências Veterinárias em Janeiro de 1953]. Remodela-se a Revista com novas rubricas e actualiza-se a sua publicação atrasada de alguns anos. Fazem-se novos estatutos, nascendo a Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias, dando assim mais coerência ao título de Sociedade tendo em conta as actividades dos veterinários fora do ramo estrito da Medicina, mas dentro das competências curriculares da sua licenciatura, campo em que muitos exercem a sua actividade profissional (leite, carnes, lãs, curtumes e pescado). Elegem-se destacadas personalidades portuguesas e estrangeiras sócios honorários, tais como: Prof. José Miranda do Vale, único sobrevivente fundador da Sociedade e figura de grande prestígio; Prof. José Maria Rosell, lactologista de renome internacional que em Portugal, a convite do Director-Geral dos Serviços Pecuários, leccionou cursos de especialização leiteira a mais de duas dezenas de veterinários; Prof. Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina. Tudo iniciativas que nunca tiveram nada a ver com condecorações oficiais em praça pública ou com salamaleques a ministros.
Com esta rapidíssima e sumária revisão sobre os acontecimentos ocorridos em escassos cinco ou sete anos, quem poderá imaginar que dez anos antes (1934) a Sociedade estava votada à dissolução por uma votação em AG da Sociedade na alternativa Ordem/Sindicato? Como se fossem instituições intersubstituíveis? Como se fosse a mesma coisa um Órgão Corporativo, obediente e submisso às regras do estado e uma Associação livre, de expressão científica, de discussão aberta sem tabus políticos e medos policiais? Era a época. A mesmíssima época contemporânea daquel'outra em que aqui ao lado as tropas de Franco, os "Carlistas requetés" berravam a plenos pulmões "viva a morte, abaixo a inteligência" e cá se encerrava a Escola de Magistério Primário por falta de candidatos, num país com 30 ou 40% de analfabetos e quando em muitas escolas primárias era o "regente de ensino", um indivíduo apenas com a 4ª classe, o leccionador. O que interessava uma Sociedade científica a menos?
Não falo da Ordem ou Sindicato agora integrados no regime democrático e que nada têm que ver com o passado. Mas falo da Sociedade como instituição cultural, sempre livre, sempre expressando o pensamento colectivo dos seus membros. Agora como antes.
A Ordem e o Sindicato hoje são órgãos de Classe respeitáveis e indispensáveis ao exercício da democracia, disciplina e ética de classe e defesa dos direitos profissionais. O processo evolutivo e transição de um regime para o outro nem sempre tem sido fácil e rectilíneo, mas está em boas mãos, e eu acredito que a Direcção actual - para só falar desta - terá todo o apoio e confiança da Classe Veterinária para que a SPCV continue a cumprir os seus mais altos desígnios.
Na minha opinião a crise da Sociedade é mais um fenómeno cíclico que uma calamidade sem solução.
No escalpelamento, embora superficial, que fiz da crise de quarenta - que me atrevo afirmar ter roçado as raias do abismo - ficou claro não ter sido o recurso a "realizações que beneficiem os colegas" que fez melhorar o nível de adesão à Sociedade, só porque não era o problema do número de sócios o maior responsável da situação, mas sim o de fazer ressuscitar o perfil de dignidade e respeito esquecidos da nossa única colectividade científica que o desgaste do tempo foi deixando atenuar-se, por demasiado saprofitismo sobre a memória das glórias do passado em prejuízo da construção do futuro, como se essas tais glórias fossem obrigadas a suportar as insuficiências e incapacidades presentes.
O problema não está, portanto, a meu ver, em inventar benefícios para aliciamento de sócios, como se se tratasse de uma promoção comercial. O problema está em sensibilizar todos os protagonistas das Ciências Veterinárias para o amor próprio e colectivo pelas suas realizações e progresso na defesa da economia nacional e da saúde pecuária e humana, posturas que não se revêem nas imagens do tipo de veterinários emprestando a imagem e o título para reclamos de comida para o cão.
Evidentemente, há que captar mais sócios, mas também há que actualizar conceitos a começar pelos próprios estatutos que terão de ser remodelados, não na continuidade dos espartilhos de "madame" modelo "Arte Nova", mas de acordo com as transformações operadas desde a própria profissionalização das Ciências Veterinárias num sistema diferenciado de licenciaturas, até às adaptações provenientes do alargamento da inter-acção das instituições nacionais, comunitárias e outras estrangeiras, nomeadamente, no âmbito da lusofonia, por forma a posicionar a SPCV nos fluxos da cooperação em programas integrados da informação e da sua projecção como entidade presente, activa e capacitada dos seus membros como intelectuais, como cientistas, como cidadãos do Mundo, atentos e críticos. É altura de esquecer as "Conversas em família", lembrando os velhos tempos da "Primavera Caetanista", em que mudando o nome, se fica sob a mesma nirvânica infalibilidade do statu quo.
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